A distinção entre vida e realidade é muito discutida na filosofia — por Berkeley, por exemplo, em sua filosofia solipsista. Para mim, realidade é quando abro o bloco de notas do celular e começo a escrever. Começo a inventar essas mentiras que conto aqui para vocês. Eu crio a realidade através da minha imaginação.
O lado bom de não amar ninguém é que posso escrever o que eu quiser sem medo de decepcionar alguém — embora mesmo amando já tenha escrito inúmeros absurdos. Como o site é meu, tenho o direito de escrever o que quiser. Aos leitores, resta apenas aplaudir; quem não gosta, que vá procurar vídeos no TikTok.
A sinceridade permite que meus leitores me conheçam melhor. A maioria dos relacionamentos, principalmente no início, é calcada na mentira. Quando a realidade se impõe com o tempo e desmente tudo, os dois idiotas já se precipitaram em fazer comunhão de bens ou ter filhos. Aí já é tarde.
O assunto de hoje é drogas e sexo. Na psicoterapia, principalmente entre gays, muitos dizem que só gostam de transar sob efeito de metanfetamina, que aumenta o tesão. Depois, já não conseguem mais transar sem drogas.
Eu consigo entender isso. Algo de que sinto “saudades” é justamente essa conexão com meu lado demoníaco que as drogas me proporcionavam. Sem elas, a vida parece banal, embora eficiente. Comer, dormir, treinar, dieta. A excelência é mundana.
E as mulheres, hoje, me parecem tão banais, tão desinteressantes… O sexo belo, de quem se esperaria elegância, parece ter desaparecido. Muitas se vestem como homens, apenas com roupas de mulheres, sem distinção, sem apreço pela moda ou pela beleza. E o conteúdo delas acompanha essa falta de elegância.
Fato é: sem drogas que deem algum auxílio à beleza delas, não consigo ter no dia a dia o menor interesse. Imagine eu assistindo um filme, elaborando um pensamento, e uma dessas garotas surgindo para estragar a ideia ainda em seu nascimento? Certamente eu não teria escrito as resenhas que escrevi se estivesse acompanhado de uma dessas mulheres.
As drogas fazem as mulheres banais parecerem atraentes. Sem esse aditivo, penso muito pouco em sexo. Há tantas coisas melhores: tanta arte no mundo, tanto para ler, ouvir, ver… O sexo se torna totalmente dispensável.
Eu sou uma pessoa dessexualizada no dia a dia, muito gentil comigo mesmo — quase confundido com um cidadão bom, kantiano. As drogas me conectavam com meu lado dionisíaco, demoníaco.
Se a escatologia cristã do Juízo Final estiver correta, eu teria que gastar toda minha retórica para convencer a Deus a não me mandar ao inferno por causa disso. Para mim é claro: não existe livre-arbítrio. Sob efeito de drogas, eu não sou quem sou — penso apenas o que seria inevitável pensar. E mesmo quando as usava, não era escolha livre: era o único resultado possível, necessário, que me levava inexoravelmente a colocar um pó branco no nariz.
Eu queria uma maneira de conciliar o inconciliável: a alquimia de misturar água e óleo sem atrito. O lado dionisíaco com o apolíneo. A insanidade das drogas, a flauta de Pã, com a arpa de Apolo. O alto desempenho com a loucura dos entorpecentes.
Meu medo é não conseguir satisfazer plenamente uma mulher na cama sem a insanidade proporcionada por Baco. O que, no fundo, é falso: as drogas aumentam o tesão, mas diminuem a performance.
O que garante minha performance sexual não são as drogas, mas sim meu fôlego, meu preparo físico, minha boa forma, meus músculos vascularizados, meu abdômen com menos de 10% de gordura. O que falta é vontade. O que falta é a pessoa certa.