DAVELEDAVE.RECANTODASLETRAS.COM.BR
Respondi isso a ela, quando me disse que só sai com quem está apaixonado por ela:
"NÃO SEI O QUE O AMOR TEM A VER COM AMOR"
Kundera roubou de mim, anacronicamente, antes de eu nascer, o conceito de amizade erótica que ele desenvolve em A Insustentável Leveza do Ser, através do personagem Tomás.
Para mim, as minhas amizades com mulheres têm que carregar tensão sexual no ar — mesmo que sejamos bons amigos.
Se ela namora, que pense em mim quando o namorado não conseguir satisfazê-la. Que me chame quando quiser trair, sem que isso destrua a amizade.
É isso o que eu quis dizer com a frase.
A decepção vem quando não existe nem amizade. Quando a pessoa só pensa em si, só vê você como fonte de prazer — talvez prazer da companhia, talvez prazer intelectual, sensorial.
Mas quando você pede ajuda, a pessoa revela não apenas indiferença, mas falta de caráter.
Na primeira vez, achei normal.
Na segunda, estranho, mas compreensível — talvez por ciúmes.
Na quarta e na quinta, já não é coincidência.
Às vezes a pessoa não aprendeu com a vida as regras do jogo.
Às vezes imagina que a felicidade está apenas na dedicação a uma profissão.
Mas essa profissão não devolverá, em felicidade, a devoção que ela deposita nela.
No final, se não aprender, só fará downgrade de parceiros, sem ser feliz com nenhum.
E a carreira, mesmo trazendo prestígio, será como o chirrin chirrión do diabo, no episódio icônico do Chapolin:
um pacto que rouba o tempo de vida, impedindo de construir algo para se orgulhar.
E então, como no poema de Drummond, quando já se é velho como José, já não resta muito.
Felizmente, eu entendi relativamente cedo.
Ainda que ao preço de não dispor de grandes coisas materiais.
Mas aprendi o milagre de fazer muito com pouco:
transformar água em vinho.