Uma bela nipônica sentou-se ao meu lado no jogo Palmeiras e Corinthians. Assistia sozinha, assim como eu. Ficou tão próxima, Closer - Perto de Mais, que chegamos a nos tocar — como em filme de Nichols.
Ela tirava selfies e, consequentemente, tirou também uma foto minha. Ficou apenas a recordação: sua tatuagem no braço, escrita em inglês, dizia “dead inside”.
Essa expressão é usada por quem sofre de depressão. É existir sem viver, estar vivo mas sentir-se morto por dentro.
Pelo que li — porque depressão, de fato, nunca senti.
Camus disse que a maior questão filosófica é o suicídio. Embora os números de suicídio entre mulheres sejam menores, são elas que mais tentam. Usam métodos menos eficazes.
Têm medo de dar um tiro no rosto e estragar o velório. Eclesiastes estava certo: tudo é vaidade. A vaidade vence até a dor de viver.
Todo esse preâmbulo serve para repetir, citando a Bíblia, apostolo Paulo: sem amor, nada serei. Preciso desse sentimento para existir, como discípulo que sou de Ovídio.
Sem ele, sinto-me “dead inside”.
Um dia, como uma febre que quase mata mas deixa o corpo mais forte, o amor que eu nutria desapareceu. Sumiram os sintomas e, com eles, a doença chamada amor.
Ainda assim, por ter convivido tanto tempo com esse sentimento, sinto falta dele.
Talvez, para preservar boas memórias — que só existiam na minha imaginação — eu chame isso de ternura, respeito, carinho. Mas fato é: já não tira meu sono, já não gasto energia pensando nela.
Se a visse casar, me seria indiferente. Comprovaria apenas que as virtudes que imaginei nela só existiam em mim, e que foram os defeitos — reais — que fizeram o amor passar.
O mais absurdo é que, mesmo sem amá-la, por saber que ela foi a única a ler TODOS os meus textos no Recanto — quase dois mil —, penso que, se quisesse, eu casaria com ela.
Casaria mesmo sem amor. Seria fiel. Seria feliz.
Porque continua linda e inteligente, e essas são as qualidades que mais me atraem em uma mulher. E porque, se ela leu tudo que escrevi, então conhece o melhor de mim.
Alguém que absorveu minhas palavras só pode ser especial.
Mas sei que isso jamais acontecerá. Pensar nessa hipótese é fútil. Então tento suprir a lacuna do amor em outras coisas: na beleza, na arte, na cultura, na estética.
Entristece-me ver garotas belas aceitarem parceiros banais, intelectualmente e esteticamente inferiores. Incapazes de dizer algo que fuja do trivial.
Na banalidade de seus companheiros, essas mulheres acabam absorvendo e se tornando também banais.
Não quero uma mulher que diga: “fizemos amor nas dunas”.
Quero uma mulher que diga: “transamos a noite inteira na areia, gozamos tanto que nossos fluidos molharam a praia, e de nossos líquidos nasceu uma nova Afrodite, como a primeira, nascida da espuma e do esperma do pau cortado de Urano”.
Não quero que digam: “ele teve uma ereção quando o beijei”.
Quero que digam: “quando eu o toco, seu pau fica duro, mas muito duro mesmo, de tanto desejo que ele sente por mim".
Porque desejo e sexo têm gramática própria. A língua do prazer transforma santas em putas sem manchar sua reputação.
Quando as mulheres entenderem isso, poderão gozar apenas de pensar no homem que desejam.
E ah, como eu gostaria de ser esse homem.