Em um pasto de vacas, você verá um monte, mas um monte de vacas de rebanho, cinzas em sua maioria.
Porém, algo chama sua atenção naquele amontoado de vacas cinzas: uma extraordinária, uma que se destaca, inclassificável — uma vaca roxa.
No meio de um monte de vacas cinzas, a vaca roxa sempre se destaca pela informação estética que transmite, justamente por ser diferente das demais, pela sua singularidade. De longe, a vaca roxa sempre vai chamar atenção.
No banal do cotidiano, eu sou uma vaca roxa.
Sou esteticamente e intelectualmente distinto, pela informação visual e comportamental que transmito.
Mas as vacas mulheres, por falta de opção ou por carência, ficam apenas com as vacas cinzas.
Um experimento mostrou peixes nadando sem objetivo, com a percepção de que não estavam chegando a lugar algum.
Conforme percebiam a futilidade de seu movimento, simplesmente paravam de nadar.
Isso significa que o ser vivo não foi feito para correr atrás de objetivos estéreis, inférteis — como alguém que insiste em buscar uma garota e é rechaçado. Uma hora ele vai parar, pela mesma compreensão da futilidade que os peixes tiveram.
O mundo dos afetos é feito de reciprocidade: eu modifico o mundo, e ele me modifica de volta.
As vacas cinzas, pasteurizadas.
Estudantes de odontologia que parecem estritamente estudantes de odontologia. Pediatras que são restritamente pediatras uniformes. Publicitários, todos cinzas. Homenzinhos e vacas cinzas que não se distinguem em nada.
Até a foto de perfil, as roupas da festa, o kitsch do deboche de uma classe média sem gosto — é tudo igual.
Uma foto que dá mais tesão do que propriamente amor.
Eu prefiro pastar sozinho.
Minha grama é mais verde, e a minha cor é roxa.