Garota, cuja boca tem gosto de cereja — no sentido oposto do belo filme de Kiarostami.
Mesmo eu não sabendo que gosto tem a cereja, por nunca tê-la experimentado, a metáfora ainda se faz justa. Pois não me impede de acreditar que seja doce e explosiva.
Sua pele é alva como a neve — neve que jamais vi ou toquei pessoalmente. Mas que, sei, se derreteria ao contato das minhas mãos.
Mãos que aplicariam a pressão exata dos dedos ao tatear seu corpo. A precisão com que meus toques marcariam a alvura da sua pele, deixando rastros vermelhos. E, ao mesmo tempo, com a delicadeza que nem um Sherlock Holmes conseguira identificar minha impressão digital na sua epiderme.
Minha língua descendo, descendo na intimidade — até a gruta do desejo.
Com languidez e entrega. Sem pressa.
Não estamos em um filme japonês. Não temos os olhos puxados como os nipônicos. Mas aqui estamos no Império dos Sentidos.
E quem olha para mim, quem testemunha a satisfação que sinto ao te ver, percebe: meu corpo reage violentamente contra minha razão e vontade, de modo eloquente, incontestável, sem álibi.
Veem bem que eu não poderia ser asiático.
Mas, como não sou um carrasco do desejo, aqui você tem o direito de tremer e gemer.
Deixar que os fluidos do seu corpo digam o que a linguagem não alcança.
Pois a linguagem que falo é o amor.
Amor cuja prova poderia ser revelada até numa biópsia do meu coração apaixonado. Coração que jamais mente.