Fantasia é diferente de fetiche no sentido de que a fantasia não impede que eu tenha desejo sexual independentemente de ela se concretizar ou não.
O meu lance com lingerie é estético e invulgar — e não é todo modelo que me apetece. Também tem a ver com o contexto e o ambiente.
Lingerie num bordel não tem a mínima sensualidade, porque ali é como se fosse uma indumentária funcional, que nem chama atenção. Talvez seja até um requisito obrigatório, como vemos em “Anora”. Mas a proliferação desse modelo faz com que tudo se torne indiferente — igual o negro que vende Grapette na praia e já não repara mais nas banhistas de fio dental. É assim com a vulgaridade massificada pela nossa indústria pornográfica e de mau gosto.
Porém, em outro contexto, a fantasia ganha um adorno especial: no cotidiano banal e, de repente, insólito — onde menos se espera. É justamente aí que está a beleza e a sensualidade.
Em outras palavras: as fantasias existem na nossa mente e apenas nela, sem necessidade de realização. Justamente para que a gente não precise levá-las para a vida real. Pensamos absurdos para sermos pessoas normais no cotidiano.
O louco, o desajustado, o anormal é aquele que pretende realizar todos os seus devaneios na vida real e não possui esse filtro — inclusive quando ignora a vontade alheia.
A fantasia realizada, por outro lado, é quando a minha ideia encontra a de outra pessoa em consenso e comum acordo. Ou mesmo quando a força da minha fantasia, pela potência lúdica ou sensual, se torna também a da outra pessoa — não pela imposição, mas pela força da sedução e da atração que se converte em consenso.
Penso que é muito belo esse pensamento. Esteticamente muito belo. Falta mais beleza nas explicações das cousas.