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Um dia frio e nublado em São Paulo, como sempre. É impressionante como esse clima e essa cidade favorecem a minha fisiologia — talvez por esse tempo me lembrar café quente e literatura.
No estádio, no imponente Allianz Parque do Palmeiras, o clima dentro de campo era frio e anódino, como o tempo.
Mas, na arquibancada, uma menina de uns sete anos contrastava com o clima e brilhava em espiritualidade.
Não é à toa que a criança é a última fase da metamorfose do espírito, segundo Nietzsche. Elas vivem tudo com o ineditismo da vida, vivem o momento e são criadoras por excelência.
A garota estava vestida com extrema coerência para a ocasião: uma camiseta do Palmeiras maior do que o próprio corpo, verde, sob a qual usava um casaco de frio também verde; tênis branco e um laço de fita branco. No rosto, a bandeira do Palmeiras.
Ao observar a deselegância e desarmonia dos pais, percebi que foi ela própria quem sugeriu a maquiagem e o figurino — que nem um Karl Lagerfeld faria melhor, ou seria mais coerente para a ocasião. Elegância e espiritualidade alinhadas ao momento.
Não à toa, apesar do clima apático dentro de campo, ela era a única que pulava e cantava, movida pela sua paixão de torcedora mirim, mesmo em tenra idade.
Quando seu pai cometeu o disparate de ir ao banheiro com o jogo em andamento, tomou a justa advertência da pequena torcedora:
— Agora não, pai. Espera o intervalo.
Bravo, garota. Pena que o Palmeiras não está fazendo justiça a esse espírito.