Crônica direto do estádio: Palmeiras e Corinthians.
No trajeto rumo ao estádio, me deparei com um fedelho, daqueles weirdos, talvez da cultura incel. Ele parecia o adolescente da série Adolescência. Nunca vi um mais magrelo, mas tinha seu charme. Estava de moletom, tênis brancos e calça jeans clara.
Me imaginei aonde ele iria, aquela hora, sozinho, tímido, sem jeito. Talvez fosse encontrar a turma do Fortnite que conheceu no Discord — igual o adolescente da Adolescência — para cometer alguma barbaridade. Ou talvez fosse encontrar uma mina pela primeira vez. E talvez fosse a primeira vez de ambos.
Descemos juntos na Barra Funda. Me deu vontade de ir ao banheiro. O garoto foi na frente e o perdi de vista com seus passos rápidos e desengonçados para a idade.
Chegando no banheiro… quem eu encontro?
O garoto estava lá, fazendo sua transformação igual o Peter Parker virando Homem-Aranha. Em um átimo, ele colocou sobre a blusa anodina uma camiseta amassada — talvez escondida na cueca — com o logo do Palmeiras. E nas costas, os dizeres emblemáticos:
“ANTES MORTO DO QUE PRETO EM BRANCO.”
Vejam, meus queridos: se os jogadores do Palmeiras hoje entrassem em campo com apenas 20% da coragem e petulância desse garoto, a gente goleava os gambás fácil, uns 4 a 0.
Ele deve ter economizado a mesada para ser sócio-torcedor, em vez de gastar com maconha ou álcool, sei lá, whatever. E se contenta em ir ao jogo, em vez de se masturbar no XVideos, ou jogar Fortnite, ou ficar rolando o Instagram como muito de vocês.
É por isso que digo, muito apropriadamente, parafraseando Segredo dos Seus Olhos…
Desde tenra idade o homem pode esconder tudo… mas não pode esconder as suas paixões.