Que estranha promessa, essa, de dizer que sairia do Recanto — e boa parte do meu dia hoje foi destinada à escrita.
Ora, mas para quem escrevia quinze textos, cinco já é praticamente cumprir o prometido, não?
Antes, a escrita era parte estrita do processo de recuperação. Hoje, é só uma ferramenta a me auxiliar.
Eu busco aprimoramento. Refinamento do meu estilo. Quando eu retornar, sem perder meu estilo próprio, busco inspiração.
É um método valioso, esse das personas e characters, no sentido de personagens para nos ajudar a lidar com situações de suposta ameaça.
Identifiquei que eu quero voltar para minha confiança e eloquência de 2016 — apesar de hoje estar mais confiante com meu estilo, imagem e aparência. Mas ainda não com a mesma sagacidade.
Identifiquei, em mim, nos últimos tempos, nervosismo ao falar com interlocutores — especialmente em público, grupos, plateias, intervenções de aula, ambientes em que não conheço a pessoa.
Estranho para alguém acostumado — e que gostava — de aparecer, de intervir na aula ou fazer piadas. A essa altura da vida, me ver diante de tal ansiedade…
Isso já vem desde a internação, quando eu não me sentia confortável em abrir a boca.
Não sei se as drogas comprometeram minhas atividades intelectivas, mas o fato é que eu perco o raciocínio no meio. Sinto ansiedade. Taquicardia.
Mas minhas intervenções continuam cirúrgicas e geniais — conforme relatei à explicação da orquídea à professora, que a levou ao orgasmo.
Porém, minha ausência é para estudar quem admiro. Refinar meu estilo próprio, tanto na escrita quanto na persona pública, mantendo minha coerência.
Gosto do estilo de escrever de Michel Foucault.
A filosofia literária de Nietzsche.
O estilo pessoal, o lirismo de Ovídio.
A análise psicológica de Stendhal.
E tentarei incorporar esses elementos à minha escrita — mas com meu humor machadiano, meu autodidatismo, e deixá-la mais atual e acessível.
Na minha fala, admiro — e me identifico — com as entrevistas de Godard, a quem muito me assemelho.
Otavio Frias Filho, que admiro pelo estilo erudito, técnico e refinado. Eles se parecem entre si — e comigo. Tentarei estudar e assimilar esses personagens.
Em termos de performance, comecei a analisar o estilo de Steve Jobs nas apresentações da Apple. O minimalismo e a elegância do design.
Espero incorporar todos eles de modo coerente no meu dia a dia.
Para treinar, eu aciono o modo Schwarzenegger — treinando até a falha, no estilo old school.
No cardio, aí eu sou eu mesmo — ou em família. Mas sempre com meu próprio pênis e distinção.
Portanto, não há que falar em selfies, mas em selves — que são moduladas pelo meu ambiente, pelos afetos do meu corpo, e como eu me modifico e transito entre eles.
Volto ao meu deserto de reflexão. Ao treino. Ao estudo metódico.
Para alcançar a melhor versão de mim mesmo.
Espero estar à altura — não de vocês — mas de mim mesmo.