Um crossover inusitado entre o professor Clóvis e o marombeiro Leandro Twin.
Mas de todo encontro inusitado nasce uma síntese interessantíssima.
Clóvis é o professor que prega o tesão pela vida. Cita seu próprio exemplo para afirmar que não há um maniqueísmo ideológico e idiota entre alma e corpo. Corpo e alma são expressões de uma só coisa. Uma alma doente é fruto de um corpo doente — e, da mesma forma, um corpo doente não pode produzir pensamentos saudosos.
Ele exemplifica com um episódio pessoal, no lançamento de um livro, quando desejou desistir da vida devido a sua doença autoimune e à depressão que a enfermidade ocasionou.
De certa forma, não era Clóvis quem expressava seu pensamento naquele momento — mas sim seu estado fisiológico doente.
Clóvis também critica a ideia parva de que a estética é futilidade.
A dicotomia entre o corpo e as atividades “elevadas” é uma armadilha. O que importa é o equilíbrio. Estética é uma palavra referencial: antes, a beleza era uma reflexão filosófica; a partir do século XVII, a estética passa a se referir àquilo que agrada aos sentidos — tanto de quem sente quanto de quem observa.
Presume-se, então, que não só o corpo é estético, mas também um pensamento, uma forma de agir, um gesto, um modo de estar no mundo.
Não é estético alguém que se preocupa exclusivamente com o corpo e negligencia o pensamento.
Mas tampouco é estético quem negligencia o corpo e se dedica apenas ao pensamento — pois seu corpo doente sabotará seu raciocínio, como foi o caso de Clóvis.
Como foi o meu caso.
Meus leitores mais atentos podem perceber o grau de otimismo ou de pessimismo dos meus textos conforme o estado fisiológico em que eu estava ao escrevê-los.
E por eu escrever muito — e sempre — minha página oferece um exemplo nítido e real do que é esse tal tesão pela vida.
Um projeto que dura. Que não tem como meta tão somente o próximo verão.
Mas sim toda uma vida.