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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

CIÚMES E TRAIÇÃO



DAVELEDAVE.RECANTODASLETRAS.COM.BR

 



O CIÚME COMO FANTASMA QUÍMICO

O ciúme está relacionado a um medo imaginado do corpo — o medo de que algo externo a ele vá alterar sua homeostase, sua serotonina, seu equilíbrio bioquímico. É um fenômeno visceral, embora seja tratado como moral ou emocional.

 

Apesar de parecer ter a ver com o outro, o ciúme é sempre um trabalho consigo mesmo. Sempre.

 

Por exemplo: eu nunca namorei, mas conheci algumas mulheres. Se elas dissessem que vão para um “dia da pizza” só com mulheres, eu não acreditaria. Por isso eu nunca namorei com nenhuma delas. No máximo, como — e digo adeus.

 


 

A AUSÊNCIA DO MEDO COMO AMOR AUTÊNTICO

A que eu amo — ou acho que amo — eu a amo justamente porque ela poderia dizer que vai sair com as amigas, ir até no “Clube do Homem”, ou sair com outro cara pro cinema, e mesmo assim eu não temeria traição.

 

Até porque a traição sempre tem a ver com uma falta. E sinceramente: não vejo o que ela poderia buscar em outro homem que me faltasse — a não ser que seu desejo seja o tédio. Nesse caso, a traição diz mais sobre ela do que sobre mim.

 

Oferece um dado da realidade: algo para que eu a conheça melhor. Portanto, não há nada a temer.

 


 

O MORALISMO INCONSCIENTE DOS CONSELHEIROS DE RELACIONAMENTO

O Eslen namora uma garota com quem teve um filho após três anos, sem se casar. Achei estranho alguém que se diz tão “consciente” ter tido um filho com uma mulher com quem nem se comprometeu.

 

Talvez não conseguiu aguentar a ejaculação. Acontece. Apesar de poder ter filho, certamente não foi planejado.

 

O que me preocupa é que esse mesmo sujeito dá conselhos sobre relacionamentos — baseando-se apenas no seu caso próprio. Diz, por exemplo, que nunca briga com sua namorada, e que antes de qualquer desentendimento eles conversam:

 

“Olha, isso não está legal. Eu gosto disso e disso…”

 

Ora, achei isso muito chato.

 

Eu não gostaria de estar num relacionamento assim — baseado num imperativo categórico kantiano, em que os instintos, a emoção, o tesão… estivessem ausentes.

 

Mesmo que desse errado — prefiro o erro ao tédio. O prazer da vida é movido pelo conflito. Se tudo fosse estático, nada haveria.

 


 

ENTUSIASTAS DA SUPERFÍCIE

Por curiosidade, fui olhar o perfil da namorada dele. Estava escrito: “Entusiasta de livros.”

 

Que categoria bizarra: alguém ser entusiasta de livros.

 

Parece-me uma relação morna, morna como a expressão “entusiasta”. Ah, o livro me deixa entusiasmado pacas… mas eu não gosto de ler.

 

Lembra a piada de Groucho Marx:

 

“Olhei o livro e ri do começo ao fim… um dia pretendo lê-lo.”

 

Esse é o entusiasta de livros: aquele que se entusiasma com a ideia da leitura — mas não tem relação de paixão com ela. Nem mesmo o hábito.

 

Como diz Suassuna:

“Eu não sou entusiasta nem mesmo tenho o hábito da leitura — eu tenho a paixão da leitura.”

 


 

A LEITURA COMO EPIDERME DA ALMA

A leitura é indiciária de quem sou. Presume-se o meu grau de leitura pela maneira como falo e me expresso. Com a leitura, não se coloca na bio que se gosta de ler — ela se impõe pela presença, pela densidade.

 

Com essas pessoas, eu tenho reação alérgica: de distância. São essas que veem o relacionamento como um juízo sintético a priori — e não como um terremoto, uma vertigem, uma aposta no mistério do outro.

 

 

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 23/07/2025
Alterado em 23/07/2025
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