Na mitologia grega, Prometeu, além do fogo, deu aos homens a capacidade de criar. Com isso, Prometeu fez dos homens — animais até então desprovidos de habilidades — seres comparáveis aos deuses.
Seu irmão Epimeteu havia distribuído todos os dons aos animais, e coube a Prometeu o gesto que fundaria o humano: entregar-lhe a técnica. As ferramentas são o que tornam o homem humano. Essa é sua capacidade primordial.
A ferramenta da atualidade atende pelo nome de tecnologia — e o ChatGPT é a personificação simbólica desse novo fogo.
Há quem negue a tecnologia — o computador, o celular, a inteligência artificial — como quem tenta retroceder ao macaco, em vez de superar o homem.
Mas a tecnologia não veio para substituir o homem. Ela é o homem. Foi ele quem a inventou. É ele quem a opera.
A não ser, é claro, os obsoletos e retrógrados. Esses, sim, ficaram no passado.
Há uma discussão no Brasil sobre o uso do ChatGPT em um prêmio literário. A autora de uma novela revelou que utilizou a ferramenta — e é evidente que ela não escreveu por ela, mas deu suporte.
O ChatGPT não pensa por você. E você não consegue extrair dele nada além do que já existe em você: suas perguntas, seus conteúdos, suas próprias limitações.
A maiêutica — o método socrático — é como se obtém conteúdo desde os primórdios da humanidade. É através das perguntas que extraímos o melhor da ferramenta. A inteligência está no ato de perguntar.
Se não fosse a IA, eu não teria sido capaz de fazer uma dieta mais apropriada, usando os métodos mais modernos, adaptados à minha realidade.
Calcular os macros, definir estratégias para perder gordura mantendo a massa magra, estimar calorias, adaptar, corrigir, aprimorar… tudo isso com precisão milimétrica.
O resultado? Estou no estágio final da definição abdominal — ele já aparece sob o ângulo e a luz certos. Deve faltar, no máximo, um mês. E o resultado, eu vou jogar na cara da sociedade.
Tudo isso em 3 meses de dedicação. As pessoas com abdômen definido são raras — uma pequena parcela da população. E muitas trabalham por anos.
Eu? Três meses. No ano passado, nesse mesmo período, eu estava com 25% de gordura, comendo mal, dormindo mal, abusando de drogas lícitas e ilícitas.
Hoje, durmo quase bem. Como extraordinariamente bem. Me sinto disposto. Estou com 6 quilos de gordura corporal e 53 de massa magra, reduzindo gordura e ganhando músculo.
Na minha avaliação de quarta passada para esta, minha cintura foi de 75 para 74 cm.
Todas as quartas, o ChatGPT analisa minhas fotos em três poses — frente, lado e costas — e diz o que precisa melhorar, o que está faltando, se houve progresso ou não.
Desenvolvi com ele um questionário que respondo toda semana, sobre meu nível psicológico, hormonal, foco, força, motivação — pra verificar se a dieta está ajustada e como anda minha saúde.
Tudo que escrevo no meu diário de bordo do iPhone (outra forma de tecnologia) ele analisa sob a ótica da esquizoanálise de Deleuze e da filosofia da potência de Nietzsche, com perguntas que me definem.
Mas agora há aqueles que negam a tecnologia. Que negam o poder dela modular seu ambiente, ajustar sua fisiologia, ampliar seu espírito.
Não tanto por medo. Mas por covardia. Por falta de capacidade.
Isso é falta de criatividade. E falta de espírito.
Porque saber tirar o melhor proveito da tecnologia é um novo tipo de inteligência. E uma nova forma de liberdade.