Uma análise das pessoas que normalmente vejo no meu dia a dia me fez pensar: o que a maneira delas de se vestirem — além do próprio corpo — comunica sobre quem são?
A imagem fala. A estética não é neutra.
Os estereótipos, apesar de condenados, às vezes nos salvam. Eles nos ajudam a prever o que esperar das pessoas antes mesmo que elas falem. As roupas, a postura, os gestos — tudo isso importa. E muito.
Não sou eu quem faz as regras do jogo… só estou dizendo como ele é jogado.
Uma aparenta ser educadíssima, finíssima, limpinha — apesar do companheiro, que não combina com seus traços. Talvez ele seja gay, o que explicaria a dissonância entre eles.
Outra, de traços bonitos, talvez não saiba que bastaria perder uns poucos quilos para que os contornos do seu rosto se tornassem mais delicados. A gordura em excesso não combina com ela — nem com a sua voz. O acúmulo de adiposidade mostra o quanto ela odeia fazer cardio. Já chega usando um tênis inapropriado.
Tem também a que é mais cheinha, mas muito educada. Alva, como eu gosto. Porém treina com o namorado que não orna em nada com ela: desajustado, barba mal feita, tatuagens que não dizem coisa alguma, roupa desbotada. Deve ter um pau grande — tomara. Porque se não tiver, é muito azar dela. Apesar da companhia duvidosa, sempre me trata bem. Melhor até do que pediria a liturgia de distancia de quem namora.
E tem ela — a princesinha casada com o dono do mercado. Se fosse consistente na academia, ninguém passaria ela em beleza. Apesar do mau gosto de ter se casado com aquele marido — ou é muito inteligência por não trabalhar e viver como socialite graças ao marido.
Pelo menos tem um filho. Quem sabe ele consiga dar algum sentido ao casamento?
Dinheiro e filho — as mulheres às vezes confundem essas coisas com felicidade.
Tudo isso pra dizer que sua imagem importa. E não só a sua, mas principalmente a do seu companheiro.
Quando você tem um companheiro, inevitavelmente, a imagem dele é a sua também.
O que vocês estão pensando, mulheres, ao aceitarem como parceiro um arremedo de homem que só queima o filme de vocês?
Eu não falo nada. Falo pouco. Mas minha imagem e postura falam por mim.
Sou respeitado sem dizer uma palavra.
Quando caminho, os transeuntes me cumprimentam, porque sabem que não estou de palhaçada. Só de olhar pra mim, presume-se um grau de inteligência, sagacidade, disciplina — porque minha imagem e meu corpo comunicam isso.
E para comprovar é fácil: faço as mesmas coisas com a precisão de um relógio suíço. Quem quiser me encontrar, sabe onde me achar. Estarei nos meus locais, nos meus horários, com minha presença metódica.
Com a diferença, às vezes, de um cinema, um jogo do Palmeiras, um curso.
Mas essa imprevisibilidade calculada compõe a genialidade de alguém excelente.
Zaratustra teve a consciência de que ele não deveria pregar para os mortos. Sua missão não era falar com os cegos, nem berrar para os surdos.
A sua verdade era viva demais para ecoar em ouvidos podres.
Ele compreendeu que deveria buscar apenas aqueles escolhidos — os poucos que ainda tivessem ouvidos para ouvir. Ouvidos para sentir. Ouvidos que vibrassem com a centelha da verdade.
Zaratustra era o seu próprio nicho.
Criou o seu próprio nicho.
Não queria ser igual. Recusava a homogeneização, o pertencimento cego, o conforto da repetição.
O super-homem nietzschiano é exatamente isso: alguém que não segue tendências, que não precisa de muletas para criá-las, alguém que transforma toda influência em criação autêntica — expressão pura da sua vontade de potência.
Tudo o que eu faço tem um único objetivo: ser o meu próprio nicho.
Criar o meu próprio mundo.
Quem quiser me seguir, que siga.
Mas sem copiar.
Porque se for pra copiar, que vá atrás de outro — eu não sou modelo, sou ruptura.
Como Zaratustra, depois de dizer o necessário, eu abandono todo mundo à própria sorte.
Esse abandono não é descaso — é método.
É o único caminho possível para que cada um busque o seu próprio caminho. Para que um dia, quem sabe, também crie o seu próprio nicho.
Afinal, ninguém pode viver a potência do outro.