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Principalmente nas redes de relacionamento — que Bauman chamaria de personificação do amor líquido — o valor de uma pessoa que arruma alguém por lá, e ainda mais o valor da pessoa que ela arruma, é extremamente baixo.
Pra alguém procurar outra pessoa, tanto sexual quanto amorosamente, através da internet, ela tem que ter algum problema.
E eu não falo isso por moralismo.
Falo por experiência própria.
Ou é viciada, ou tem baixa autoestima, ou é tímida, desinteressante, de baixo valor intelectual, físico ou estético. Algum problema ela tem — pode ter certeza.
E insisto: não falo isso por moralismo, mas porque já fui essa pessoa.
Uma pessoa que conheci numa rede social — supostamente de literatura (rs) — chegou a me mandar um vídeo dela transando com um cara que conheceu numa rede social de relacionamento.
Qual a chance de uma pessoa assim não ter sérios problemas?
De se filmar nesse ato, de mandar o vídeo para um terceiro, e mais ainda — o cara com quem ela transou…
Que tipo de homem ela escolheu?
E por que ela preferiu compartilhar aquilo com outro homem, e não com quem estava deitado ao lado dela?
Mesmo que seja com a permissão dele, mesmo que ele ache que está se exibindo, “o fodelão” que filmou a transa — esse é o tolo maior.
O corno emocional.
O que não sustenta o sexo feminino por mais de dez minutos.
O que é substituído por uma tela de celular logo após o orgasmo.
É claro que o advento das redes sociais também possibilita o encurtamento das distâncias sociais, e que pessoas de universos distintos se encontrem.
Mas daí a gente passar a normalizar o cara que namora e curte fotos de mulheres de biquíni no Instagram?
Ou a mulher que curte fotos de homens sem camisa?
Eu não bloquearia por ciúmes.
Mas simplesmente pelo fato de falta de espírito que esse comportamento revela.
Não é sobre posse. É sobre o grau de consciência e dignidade com que alguém escolhe se comportar no espaço público do desejo.
O amor nas redes sociais escorre pelos dedos.
Tão fluido quanto o líquido infértil do momento do orgasmo.
Rápido, inútil, insípido.
Um prazer que não fecunda. Uma intimidade que não dura.
Não é amor.
É um consumo afetivo.
Não é paixão.
É um descarte disfarçado de escolha.
É o orgasmo sem consequência, a nudez sem entrega, o toque sem presença.
É a pornografia da afetividade.
E quem arruma alguém nas redes sociais quase sempre está mais perdido do que apaixonado.