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Esse desajuste de aparências entre homem e mulher muitas vezes é compensado por um fiel da balança que ajuda a amortecer: dinheiro, filhos, solidão, conveniência.
A princesa local, casada com o filho do dono do supermercado, atende todos esses atributos. Ela é bela, tem um corpo bonito, é elegante, sabe se portar. Se seu conteúdo corresponde à aparência, é improvável. Nunca falei com ela, exceto nos monossílabos do cotidiano. A chance de me decepcionar é grande — mas aí o problema é meu. Os outros são o que são.
O fato é que qualquer transeunte percebe: o único da redondeza que realmente combina com ela sou eu.
Apesar de eu ser moreno, ela era alva — branca como o pó que eu cheirava.
Talvez, justamente por esse meu passado, ela esteja com um cara nada a ver, sustentado pelo capital financeiro e filhos. E eu, que jamais disse uma frase com mais de três linhas pra ela, permaneço espectador.
Quem vê esse meu metrossexualismo físico e intelectual pode até confundir com homossexualismo.
Acho engraçado alguém xingar outro de “gay”, como se fosse uma escolha gostar de fazer amor de costas — como se houvesse uma decisão consciente de ir contra a sociedade.
Ele não é livre para ser sodomita. Ele é sodomita.
Gays, ao menos, são mais educados. E, em média, mais inteligentes do que os héteros. Eu gosto dos gays. Só não me identifico com o modo como eles obtêm prazer.
E acho ótimo que pensem que eu sou gay — enquanto essa fama me ajudar a comer mais mulheres.
Quero ver quem é o gay quando eu estiver fazendo ménage com duas mulheres que esses caras jamais sonharam tocar.
Outro ponto é como as mulheres manipulam os homens.
Elas acreditam que “fazer coisas juntos” une o casal. Como treinar na academia, por exemplo. Quem é capaz de sondar a cabeça de uma mulher e perceber — mesmo que ela não saiba — que o treino é só um pretexto?
Um álibi.
Um meio de ver outros homens, de flertar sob a aparência de pudor e inocência. Ótimo álibi, aliás, é dizer pro marido que está treinando “pra ficar mais gostosa pra ele”.
Ou pior: levar o próprio marido pra treinar, só pra ele parecer deslocado diante dos outros — com um percentual de gordura menor. É a domesticação estética do homem por motivação social.
Tudo que é cotidiano é banal. O que foge do convencional é sedutor.
O raro vale mais em qualquer sociedade. O que não está à disposição de todos é mais valioso. E sim: o tesão está diretamente relacionado com o que é raro.
É muito mais prazeroso fazer sexo com alguém com 12%, 10%, 8% de gordura corporal. Isso presume disciplina, vitalidade, força, potência. A simples estética comunica genética e valor.
Um homem com esse corpo dificilmente não terá mais vitalidade que o marido gordo, domesticado e resignado.
Mas o que é realmente sexy não é o corpo. É o que acontece depois do orgasmo. Quando as palavras ditas superam o prazer da genitália.
Quando o gozo transcende a carne e vira pensamento.