Muito em voga no jargão dos departamentos de RH corporativo, os termos hard e soft skills dizem mais sobre o nosso tempo do que imaginamos. Hard vem do inglês — duro, difícil, tangível. É o que você chuta: o hardware. É conhecimento técnico, específico, objetivo.
Soft é o contrário. É como software — o que você sussurra, o que flui. São capacidades difíceis de quantificar, mas hoje valorizadíssimas. E, a depender do contexto, valem muito mais do que qualquer diploma. Falo de criatividade, inteligência emocional, empatia, comunicação verbal e gestual, capacidade de resolver problemas, flexibilidade, adaptabilidade, evolução pessoal, garra, proatividade.
Enquanto o hard soluciona o problema técnico, o soft traz o lucro. É ele que transforma um cargo em uma missão e uma empresa em uma potência. O sucesso de um time está mais na sinergia do que na soma de currículos.
Em uma entrevista de emprego, você precisa saber ler o jogo. Avaliar sua condição com frieza. Se te falta conhecimento técnico, jogue com suas soft skills. O que sua imagem comunica? Por que vale a pena uma empresa atrelar a marca dela à sua? Que problema só você resolve? Que coelho só você sabe tirar da cartola?
Empresas não querem quem traz problema. Querem quem dissolve nós.
Sou esse tipo de pessoa: que sem procurar, é procurada. Que mesmo envolto em pó, arrumou um emprego para o irmão na vaga que era pra mim — vaga que, indiretamente, ajuda a sustentar a família dele. É claro que os méritos são dele e talvez de Deus, mas são meus também. Porque eu sou o tipo que contagia com a postura. Que inspira sem querer. Que abre portas só por existir com presença.
É simbólico que, sendo eu um mero POT — beneficiário da Prefeitura de São Paulo — enquanto muitos outros se matam de trabalhar e não conseguem uma oportunidade de efetivação, eu, que teoricamente menos precisaria, sem sequer procurar emprego, tenha sido abordado. Só com o poder da imagem, da postura e do que ela comunica.
Do ponto de vista técnico, eu não teria chance. Mas em termos de capacidade, ninguém melhor do que eu para ocupar o cargo.
Só que eu não quero.
Porque parte da minha soft skill é justamente entender o meu momento, meu estágio de desenvolvimento pessoal. Mais dinheiro? K. Cinco mil a mais não me trariam felicidade. Ter 10%, 8% de gordura corporal, um abdômen definido, mantendo minha elegância e meu conteúdo — isso sim me trará vantagens. Isso me diferencia. E esse resultado me daria uma felicidade autêntica, indestrutível.
Com R$ 5.000 a mais, talvez em vez das camisetas da Shopee, eu usasse Dudalina. Talvez em vez de pedir iFood no meu refeed programado, eu jantasse numa bela cantina italiana. Talvez, em vez de dar R$ 900 para minha mãe, eu desse R$ 3.000.
Mas nada disso me faria mais feliz.
Eles sequestrariam minha criatividade e meu tempo em prol deles. E eu, que não sou socialista, entendo: o desafio seria mostrar que sou capaz de gerar resultado. Mas com meu nível de disciplina e obsessão, isso me exigiria tudo — minha energia, minha mente, minha alma.
Não teria tempo nem dedicação para treinar, escrever, ver filmes, ler. Em outras palavras, não teria tempo para ser quem sou: esse projeto interminável de criar uma obra de arte por meio da própria imagem. E esse entendimento, essa recusa lúcida, também faz parte da minha soft skill.