× Capa Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livro de Visitas Contato
DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

O QUE SE TORNOU CHRIS MARTIN DO COLDPLAY?


DAVELEDAVE.RECANTODASLETRAS.COM.BR
 



VERGONHA ALHEIA EM HD

É com um ar de certo constrangimento que assisti ao show do intervalo da Copa do Mundo da FIFA. A competição em si foi um sucesso, apesar da tentativa de americanizar o futebol, tornando-o mais palatável ao gosto dos EUA.

 

Aqueles detalhes patéticos que parecem banais, mas revelam o deslocamento cultural: a entrada individual dos jogadores, um a um, como se fossem gladiadores anunciados — ao invés da tradicional fila indiana dos dois times perfilados, símbolo de coletividade e respeito.

 

Cada atleta entrava sozinho, visivelmente constrangido, enquanto seu nome ecoava por alto-falantes como se fosse personagem de um reality show esportivo. Aquilo não pertence ao futebol. É um enxerto estético malfeitado.

 


 

ENTRE O BOXE E A SHOPEE

Outro ponto ridículo foi a tentativa de transformar a apresentação dos times em algo semelhante ao UFC: chamaram o lendário Michael Buffer — sim, o locutor de boxe, irmão do Bruce Buffer, que faz as entradas do Ultimate — para anunciar as seleções nacionais como se fossem lutadores.

 

Mas o ápice da vergonha alheia foi o tal show do intervalo — uma espécie de Super Bowl versão Shopee, com direção artística do famigerado Chris Martin.

 

Sim, aquele Chris Martin. O ex-líder de uma banda que já foi símbolo de poesia melódica, de vulnerabilidade sincera. Agora, reduzido a maestro de espetáculo genérico, genuflexo ao algoritmo e ao TikTok.

 

Ele se tornou o Bono Vox da Shopee.

 


 

DA INTIMIDADE AO CARNAVAL POP

Triste ver Chris Martin — o mesmo que compôs músicas como Yellow e Amsterdam — se submeter a esse ridículo ensaiado, plastificado, sem alma.

 

Os dois primeiros discos do Coldplay são memoráveis, quase magistrais. Parachutes e A Rush of Blood to the Head tocaram em lugares que poucos álbuns ousaram.

 

Mas então veio a curva: Viva La Vida.

 

Uma música imponente, sim — mas esgotada de tanto ser usada em posts de Instagram com frase de autoajuda e pôr do sol de fundo.

 

Eles poderiam ter parado ali.

 

Mas não. Vieram ainda com Paradise — uma canção que já não trazia a mesma intimidade, a mesma névoa existencial que antes definia a banda.

 


 

DE SÃO PAULO À MÁCULA

Meu irmão teve a oportunidade de ver o Coldplay no Via Funchal, em São Paulo, na época em que ainda havia alma. Fiquei com muita inveja.

 

Hoje, essa inveja daria lugar a um constrangimento profundo. Teria vergonha de dizer que assisti a essa versão da banda.

 

Mas é preciso ser justo: em 2003, a banda era outra.

 

O tempo, o mercado e o narcisismo social criaram uma réplica sem espírito. Um Coldplay com a casca do Coldplay, mas sem seu lamento melódico.

 

E Chris Martin… bem, Chris Martin virou trilha sonora de comerciais e de lives patrocinadas por sabão líquido.

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 14/07/2025
Comentários