A IMPREVISIBILIDADE É PREVISÍVEL

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A BANALIDADE DA EXCELÊNCIA

A excelência é mundana. O que chamamos de alto desempenho é só uma sucessão de hábitos simples e banais realizados com consistência. Nada tem de extraordinário, antes o contrário: se analisássemos os dias de vida e carreira de um atleta em um filme, dormiríamos em dez minutos.

E pense bem, você, leitor: quando realizou uma grande tarefa, ou algo de que tem grande orgulho — como passar no vestibular de medicina, embora eu duvide que tenha médicos entre meus leitores —, pergunte-se: como era sua rotina nesses tempos? Talvez tenha sido o seu auge intelectual, mas, se for honesto, verá que era apenas um “dia da marmota”, uma sucessão de banalidades que o levou ao “sucesso” da sua vida atual.

O PRAZER DO PROCESSO

Da mesma forma, o alto desempenho nada tem de extraordinário. Treinar, fazer a mesma coisa sempre e com técnica, diariamente, com consistência e zelo; dormir bem, alimentar-se bem e, mais importante, enjoy the ride: apreciar a caminhada, recompensar e dignificar o processo, torná-lo prazeroso, ou ao menos cultivar o mindset de que aquilo valerá a pena no futuro.

No meu caso, sempre que me exercito ou faço algo mais banal, estudo e aprendo junto. Se faço musculação, meu estímulo e doping é a música; com isso eu modulo meu microambiente. Assim, o que a maioria detesta — o cardio — é para mim o mais prazeroso: é terapia, aprendizado, leitura, filme, prazer.

Quando perguntaram a Michael Phelps, maior nadador da história, sobre o ano em que treinou sem um único dia de descanso, ele disse que sentia mais prazer em treinar durante os feriados, porque sabia que seus concorrentes estavam descansando ou se empanturrando de comida. Eu também gosto mais de treinar aos sábados e domingos. Enquanto você está com sua família, tentando orgasmos múltiplos com seu amante negão, eu estou andando, fazendo meus 24 mil passos em média e escutando uma aula ao mesmo tempo. O processo pode parecer incompreensível no início e pouco comparável ao prazer da comida ou do sexo, mas em 24 mil passos eu caminho três horas, consumo três horas de conteúdo, enquanto trabalho minha saúde cardiovascular, resistência e aprendizado. Agora pense nisso todos os dias, por um ano: quem ganhou mais? Quem perdeu mais? Você ganhou peso; eu ganho saúde e vida.

OS RESULTADOS QUE VOCÊ NÃO ESPERA

No dia 24 ou 30 de dezembro, eu estarei andando meus 24 mil passos, desfrutando três horas de aula, escrevendo meus textos, fazendo minhas piadas, lendo, aprendendo — enquanto todos estarão fazendo promessas para o ano seguinte que jamais irão cumprir. E eu desejo, sinceramente, que vocês vivam bastante tempo para testemunhar o resultado das minhas consequências, que eu irei postar e transformar em conteúdo.

É curioso que eu antes andava muito para obter minha dose de dopamina sintética, mas jamais faria o esforço que faço agora para consegui-la. A diferença é que a dopamina sintética só está presente no cérebro, mas não no corpo; e o corpo dopaminérgico é um contentamento spinoziano por todo o ser, a verdadeira alegria divina.

A ELEGÂNCIA DA SIMPLICIDADE

A maestria é simples. Eu vivo para a simplicidade, que é o maior grau de sofisticação. Meus hábitos são simples. Minha erudição, meus textos e minha elegância são simples. É muito fácil prever minhas ações, até mesmo me presentear: você já sabe meu gosto, que é simples. O difícil é fazer o simples parecer elegante, distinguir-se pela sobriedade.

E, de certa forma, é justamente a minha previsibilidade que me permite escrever coisas imprevisíveis. O extraordinário surge da minha rotina ordinária. A excelência é frívola, fútil, simples — e, portanto, é para poucos: fazer o simples, diariamente, com consistência e evolução.