Aqueles casais que não existem individualmente fora do relacionamento — que você não sabe onde termina o indivíduo e começa o casal — são o retrato da simbiose que imita o afeto, mas mascara a prisão.
Vão treinar juntos, ao banheiro juntos, comem, dormem, respiram juntos… mas não é liberdade. É medo.
São dois indivíduos que não aprenderam a existir sozinhos, que transformam o outro em muleta para sustentar uma imagem artificial de plenitude.
Dizem que não se separam porque se amam demais, mas a verdade é que não suportam a si mesmos.
Um casal saudável deveria ter sua própria vida — amigos, silêncio, espaços, vazios. A relação deve ser uma ponte, não um cativeiro.
Não é sobre preencher o outro, mas sobre transbordar junto.
Muitos confundem idealização com amor. E essa ilusão pode durar meses, anos, até uma década — como no meu caso.
Mas chega o dia em que a ficha cai. Um dos dois readquire a força de enxergar a realidade e percebe que sua felicidade não pode depender de ninguém — nem de pessoa, nem de contexto.
Tivemos nossa oportunidade. Mas ao me preterir pra ficar com o ciclo social dela, a pessoa escolheu o ambiente ao qual quer pertencer — em detrimento do meu.
O resultado é que ela irá se confundir com o ambiente dela. Se é bom ou ruim, o tempo dirá. Mas será previsível.
As pessoas são previsíveis justamente porque refletem o comportamento da média do seu ambiente — um ambiente que não se destaca em nada.
Eu prefiro enaltecer a diferença, o imprevisível, o original.
Ela, o conforto e a segurança dos últimos homens.
Foi uma escolha. E escolhas sempre revelam ideologia.
É preciso respeitar…
Mas principalmente: se afastar, abandonar, deixar de amar.
A sorte é que a escolha dela torna o processo mais fácil.
A única coisa que pode nos salvar é esse narcisismo filantrópico: o cuidado profundo de si, que inspira e ilumina outros, mas não se entrega ao erro, à dependência ou ao conformismo.
E é nesse momento que entendemos: às vezes, o amor já tinha acabado…
Antes mesmo de começar.