Somos uma figura de linguagem e comunicação. Ninguém é gênio calado, que não escreve ou se expressa. Você pode ser o mais criativo, erudito e intelectual do mundo, mas será o mais energúmeno calado.
A boa notícia é que a capacidade de comunicar é plástica, moldável, e se desenvolve com exposição e experiência.
Eu mesmo, que nunca fui tímido, sinto ansiedade em falar em público — na verdade, em ambientes com pessoas desconhecidas.
No colégio, eu fazia piadas e me expunha. Mas, aos 15, fui apresentar meu primeiro oral teste, do inglês, e travei. As pessoas olhavam pra mim com vergonha alheia e não conseguiam me encarar, pois eu não estava acostumado com elas.
Depois disso, passei a apresentar todos os testes orais — em grupo e individualmente — e os roteiros eu mesmo escrevia.
No trabalho, eu era o comercial. Mas assim que tive minha empresa e fui com meu sócio numa entrevista comercial, fiquei muito ansioso. Ele mesmo me deu uma chamada. Curiosamente, aquele cliente virou meu cliente direto até mesmo quando saí da empresa.
Acho que o conhecimento técnico e a desenvoltura de articular bem as palavras me ajudaram a vencer o nervosismo. E é quando me ouço falando que fico mais calmo.
Para vencer o medo de falar em público, você tem que progredir gradativamente: primeiro falando com transeuntes, depois em rodas de amigos e, posteriormente, com um público mais amplo e desconhecido.
Falar vai aumentar suas possibilidades. É imprescindível — no mercado corporativo e nos relacionamentos.
Quando voltei da viagem de Maceió, em que eu era obrigado a abordar mulheres para conseguir algo, voltei pra São Paulo e comecei a falar com qualquer desconhecida na rua. Foi o período de maior pluralidade de relacionamentos da minha vida.
Isso só foi interrompido pela abertura da empresa e por uma mudança de direcionamento — e de libido. E sim: é uma capacidade que você perde quando não treina.
Quando voltei a trabalhar com o público, eu falava tanto que parecia o Jô Soares. Falava sobre tudo. Um verdadeiro anfitrião.
Hoje, já faz dois meses que não lido com o público e provavelmente estou mais travado. Mas escrever, estudar, ler — tudo isso me ajuda na capacidade de comunicação.
Comunicar-se é a forma de expor sua personalidade e suas ideias. Não há outra forma, amigos.
Quando eu estava internado, eu só falava “obrigado”. Me sentia aflito naquele ambiente opressor. Falava pouco, nervoso — mas bonito.
Alguns ambientes ou pessoas não valem gastar sua saliva — a não ser como experiência ou teste.
Na psicoterapia, quando eu falo, ainda com taquicardia no começo, depois me solto. E o psicológico da USP nunca consegue fazer um aparte na minha fala irrepreensível.
Pelo contrário: ironicamente, eu gosto de falar coisas que ficam subentendidas. Os psicólogos dizem uma coisa, mas eles mesmos só repetem senso comum e obviedades. A psicologia, a mente — são invenções modernas, e seu fim está iminente.
Os grandes escritores já eram psicólogos — muito melhores. Os filósofos assentaram as bases da psicologia. E a verdade psiquiátrica não se faz com fármacos, mas com mudança de comportamento.
É o repertório intelectual que te traz esse insight.
Eu tento oferecer aos participantes da psicoterapia essa motivação. A motivação é sempre a capacidade de você traduzir a informação e o conhecimento em dopamina — e a dopamina é o que te faz agir.
E é assim — com conhecimento, informação e confiança — que se vence o público. Que, creiam: na grande maioria, é formado por uma miriade de idiotas ignorantes que não sabem o que querem.
E você tem que falar. Se expor. Mostrar.