De toda a minha rotina, o que mais me cansa certamente é o transporte público. Ficar parado. Estático. Refém do tédio coletivo.
E se estou sem fone de ouvido, sinto-me pelado — exposto, vulnerável, entregue à brutalidade sonora do mundo.
Hoje mesmo, vi uma moça até bonita rolando compulsivamente o status do Instagram. Quase tive uma síncope de tanto desespero.
Às vezes, faço um breve exercício mental: o que será que passa na cabeça de uma pessoa que, durante o trajeto, não encontra nada melhor para fazer além de rolar vorazmente o Instagram?
Não estou falando de elitismo. Estou falando de miséria cognitiva.
Na academia, na verdade, eu me destaco — mas não pelo que faço nela. Destaco-me pelo que faço fora dela.
As pessoas talvez até consigam emular o meu treino, o meu protocolo, o meu bit-set. Mas o que realmente não conseguem é dignificar o processo. Recompensar o esforço com cultura.
Não há disciplina suficiente se não houver sentido.
A verdade é que as pessoas têm uma dificuldade cognitiva absurda. É como se o esforço físico fosse o teto da complexidade delas.
Na academia, porém, é o lugar em que me sinto mais à vontade. Talvez porque ali o contrato social é outro: silêncio, esforço, repetição.
Ali ninguém finge saber. Ou você progride, ou você mente para si mesmo.
Sinceramente? Se eu fosse mulher, não ficaria com um homem que não demonstra competência para emagrecer.
Ora, se ele não consegue cuidar do próprio regime, como vai cuidar de uma família?
Do mesmo modo, alguém que se relacionasse comigo dificilmente não ficaria, de alguma forma, imbuído do meu espírito.
Mais humor. Mais elegância. Mais inteligência. Isso é fato.
E se me perguntam se uma mulher atrapalharia meus objetivos, eu simplesmente lido com isso não tendo namorada alguma.
Da mesma forma que a academia não é o lugar ideal, mas é onde me sinto mais à vontade, o mesmo vale para o recanto das letras.
Diante da mediocridade das redes sociais, aqui ao menos tratamos com textos.
Todos temos, mais ou menos, um mesmo jeito de escrever. Assim como na academia, há os que tentam ficar mais bonitos — mesmo que, tanto lá quanto aqui, existam os ineptos: os que não conseguem emagrecer nem progredir.
Mas eu?
Eu faço a minha parte.