“Corra, Forest, corra…” Todos nós somos um pouco Forest Gump. Os fracos de espírito o reduzem a um contador de histórias, mas se eu fosse o Carlos Alberto de Nóbrega, processava por plágio: roubaram a Praça do Pescador, onde se contam mentiras e se misturam verdades em meio a personagens improváveis.
Forest é o idiota que deu certo. E nisso, eu me identifico. Embora eu esteja no processo… Por enquanto, sou só idiota mesmo.
Forest está nos acontecimentos mais importantes da história por acaso. Sem planejamento, sem cálculo — apenas indo no fluxo. Um autista que tinha tudo para dar errado, mas deu certo. Ao contrário de sua amiga genial, que se chafurda nas drogas.
Eu sou Forest. Mas também sou um pouco da amiga.
A mudança na minha vida atual não tem nada de extraordinário. Se alguém perguntar: “Como é que ele consegue?”, a resposta é simples — comparada à minha vida pregressa, qualquer coisa é melhor. Eu faço tudo isso porque está bom pra mim. Me sinto mais disposto, mais alegre, com melhor humor, melhor libido — e tudo isso naturalmente.
Mais criativo, mais coerente com a minha característica essencial: o humor e a espiritualidade laica — a sabedoria de viver mais de acordo com os nossos instintos primordiais. Comer o mais natural possível, sem ultraprocessados — só suplementos — e me movimentar mais do que fico parado. Como os nossos antepassados.
Em sentido estético, talvez não seja nobre, mas também me move: essa ética de conseguir mais me esforçando cada vez menos.
Hoje, pego apenas 5 kg em cada lado do halter. Imagina quanto eu ainda tenho pra evoluir? Quem ironiza minha força está, na verdade, revelando o próprio fracasso: porque, pra alguém sem o meu físico, quase maratonando nos pesos da academia, chegar onde eu cheguei exigiria meios ilícitos.
Leva tempo para superar uma vida de quase-excessos. Ainda que meus exames sejam de uma pessoa que sempre foi saudável, eu treino para ampliar as minhas opções.
Pensa bem: naquele calor insuportável, quando todos desejam uma piscina ou se ressentem de usar camiseta, eu estarei ali — fazendo meus 24 mil passos diários normalmente, estoicamente. Mas com uma diferença: estarei suado, com o abdômen mais trincado do que a cerveja gelada dos barrigudos no bar.
E nesse momento, os transeuntes olharão pra mim. E sem que eu diga uma só palavra, ficará subentendido qual é a minha ética: o meu trabalho duro, meticuloso, diário, deu certo.
Por um instante, eles se motivarão. Igual o Forest motivou a multidão a correr. Mas motivação não é entusiasmo. Entusiasmo é uma febre que dá… e passa.
Eles verão que, pra chegar naquele resultado, eu tracei o Everest. E então, abandonarão o projeto pela metade e voltarão pra cerveja. Essa cena já está clara na minha cabeça. E ela me motiva.
Enquanto eles falam “Ah, eu estou satisfeito assim”, o que dizem, na verdade, é o grito de derrota dos fracassados.
Eu nem corro. Só caminho.
Porque eu não sou tonto como o Forest!
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