Creiam-me: eu sigo inúmeros perfis de moda, gente ligada à estética, à alta-costura — e jamais vi um modelo sorrindo na foto. Parafraseando Tolstói, todas as fotos felizes se parecem, as tristes, tristes o são cada uma a sua maneira!
Claro, parece óbvio. Se uma modelo entra na passarela com esse sorriso seu, de “it a coisa”, eu jamais compraria uma roupa dela. A roupa deve se expressar sozinha. O sorriso não é parte do traje — é um ruído, uma distração estética.
E vocês me perguntam desse meu olhar blasé, nos meus “looks do dia”, um tanto macambúzio, taciturno talvez. Mas um sorriso idiota no rosto não deixa um semblante mais bonito — no máximo, mais estúpido. Senão, ninguém teria mais “sex appeal” do que um palhaço.
Nessas minhas caminhadas diárias eu vejo de tudo — ou, na verdade, vejo de nada: vejo o previsível.
Gente que fuma maconha antes de tomar café. Ou nos bares antes mesmo de eles abrirem. As pessoas se vestem como um problema administrativo a ser solucionado. Um “imprescindível” apenas para não se exibirem nus.
Porém, é fundamental — mesmo dentro de circunstâncias as mais desfavoráveis — criar o seu ambiente.
Todo domingo, lá pelas seis, eu encontro os ciclistas. Fazem questão de me cumprimentar. Apesar de eu não vestir no pulso o Garmin, eles sabem que fazemos parte do mesmo grupo: o do mundo saudável. Embora eu, por princípio e destino, vá sempre seguir carreira solo. Obrigado.
Como eu gosto de ressaltar: o bom gosto é a maior forma de distinção.
Vejo a irmã de um amigo de infância — o Baroni. Ela é cinco anos mais nova que a gente. Quando eu o visitava, ela era criança. Hoje, ele vai fazer 29.
Ela é do bairro. E comparar a elegância e distinção dela com essas médicas que vejo por aí é até covardia. Embora ela esteja além do esplendor físico da juventude, ainda se mantém — com sobras.
A mulher alcança o auge físico muito cedo. Aos 11, 12 anos — isso é fato, não é hipocrisia.
Quem se desenvolve nessa fase, aos 18 já começa a embagar e engordar. Conheço várias.
As que passam despercebidas na adolescência costumam ter seu auge físico aos vinte e poucos. Mas a partir da metade dos vinte… tudo declina. E é só ladeira abaixo.
Ser minimamente bonita exige um trabalho constante contra a genética.
A “menina-mulher Baroni” se favoreceria — e muito — de um déficit calórico, alimentação saudável e um pouco de cardio. Mas ela não gosta. Não há o que fazer.
Apesar de tudo, ela sabe se vestir. Sabe ressaltar sua beleza — que não é pequena — e ocultar suas imperfeições — que são bem poucas.
O irmão dela e eu tínhamos um blog: Amorim vs. Baroni.
Eu escrevo desde aquela época. Ou talvez até antes. Mas eu nunca parei.
Ele tem uma bela carreira, um consultório, é cirurgião-dentista. É curioso: me inseri muito cedo no mundo corporativo e fui eu quem o indicou para sua primeira entrevista — elogiadíssimo. Só não passou porque disse que seu foco era a área da saúde, já que a mãe é enfermeira.
Eu, como sabem, me desviei do mundo do capital. Meu foco agora é outro. Porém, a escrita permaneceu.
Ele sempre destacava como parecia fácil pra mim escrever. E é mesmo. Este texto, por exemplo, estou escrevendo na esteira.
Bem… eu não diria que escrevo bem, mas escrevo facilmente. Isso sim.
Fácil pra mim. Alguns estão aí — e não conseguem fazer na vida o que eu faço num único dia me exercitando.
Esses são os que sorriem na foto.
Eu prefiro ficar belo — e sóbrio.
Um beijo, menina Rebeca.
Parabéns pelo bom gosto.
Só o fato de você ter virado matéria de um texto meu já mostra sua distinção.