Esse masoquismo proposital de gostar de ler coisas que eu não gosto pode parecer incompreensível, mas há método, como na loucura de Hamlet. Pois a burrice e o mau gosto alheio me alimentam.
Por isso, às vezes faço questão de ler alguns recantistas só para passar raiva — igual ao senhor mitômano, mas esse é para rir também, um pouco.
E a tal superdotada, que pelo tamanho da cabeça dela eu devo concordar.
E agora eu gosto de buscar o perfil daquela garota que não merece ser nem mencioNNada, com esse mesmo intuito: ver tudo o que dá pra ver num perfil bloqueado, não mais por propósito, mas só para tomar tento do delírio coletivo e individual que eu estava vivendo. Gosto de ver seus comentários, fotos, e os de seus amigos, para comprovar a tese social contra a meritocracia: que uma pessoa só é reflexo da vida dos pais e vai legando a sua num fluxo. E aí ela nem é uma pessoa individual, nem é seus pais. Ela fica num limbo existencial.
Ela não é ninguém.
E aquilo, ao contrário de Sartre, que dizia que não importam as nossas circunstâncias, mas sim o que fazemos com elas. A pessoa tem a capacidade de fazer pouco das suas e até piorá-las. O álibi dela(s) é que somos frutos do nosso meio. Eu, por exemplo, nas cagadas que fiz na vida, foi culpa dos meios. E os méritos foram fruto de solidão e individualidade. Portanto, toda a culpa é dos outros, e todos os méritos são meus.
Mas eu fico um pouco triste e com pena, na real. No final, só será como tantas outras. A maioria das pessoas se precipita e faz coisas idiotas — como ter filhos e se casar — por puro tédio e incapacidade intelectual, por falta de espirituosidade. E vejo que é o caso.
Eu posso ser um tronco numa correnteza, mas não uma muleta. Posso mostrar o caminho, mas não percorrê-lo por ninguém. Ofereço a mim mesmo como exemplo e testemunha. A inspiração vem de cada um.
Gosto de ser fiel a mim mesmo, para que meu próprio escrutínio e a hipocrisia do que eu faço e deixo de fazer sejam mais aparentes. No juízo final quem me cobrará será Deus — mas o maior carrasco serei eu mesmo, se houver a desconfiança de que eu não fui o melhor em vida que eu pude ser, de que não tirei da vida o melhor que fui capaz de viver.
O tesão e a raiva eu converto em tesão pela vida.
Obrigado por me fazerem passar raiva, pois para mim é matéria de criação.