Da mesma forma que Damásio escreveu sobre o erro de Descartes, eu escreverei sobre o erro dos estóicos — e evocarei o pensamento do próprio neurocientista português para contrapô-los.
A filosofia estóica é mais popular atualmente justamente porque o senso comum se apropria dela para autoajuda.
Desconsidera-se que a premissa e definição da filosofia são justamente o contrário da autoajuda. A autoajuda é tão distinta da filosofia quanto a filosofia é da ciência — apesar de a filosofia ter antecedido o método científico e a ciência só existir por causa da filosofia.
Porém, a filosofia faz ilações sem se preocupar com evidências, e alguns filósofos tiram “verdades” e “evidências” como se viessem da parte final do sistema digestivo, manipulam os fatos, inventam conceitos para embasar seu pensamento. Já a ciência é precisamente o contrário.
Ora, a propósito do estoicismo: ele prega que nos voltemos para fatores internos, aqueles que podemos controlar, e ensina uma espécie de resignação diante do externo, do fator da alteridade e do meio ambiente.
Porém, como ensina a neurociência, o nosso interior — nossas ações — é totalmente moldado pelos fatores externos. Não existe a dicotomia maniqueísta entre interno e externo; ambos estão intrinsecamente ligados.
Skinner, que é o inventor do behaviorismo, demonstra como o ambiente externo afeta nossas ações. O que posso fazer, no máximo, é tentar controlar o ambiente externo para que a equação dele com o meu comportamento resulte nas ações que desejo, benéficas ao meu propósito. O foco está na consequência.
A motivação sempre provém de um fator externo, e não interno.
Por exemplo: para se exercitar, muitas vezes a motivação vem da estética — para ficar bonito vestido ou pelado. Quer motivação maior do que caber numa calça ou colocar uma camiseta e ela cair lisa no corpo?
Quem diz que treina pela saúde, no fundo, treina pelo medo. Aqueles que não se exercitam vão parar na mesa de cirurgia. Doutor Nowzaradan, dos “Quilos Mortais”, sabe disso, e ele, sendo exterior, incute esse medo em seus pacientes: se eles não se exercitarem, se não emagrecerem, vão morrer na operação.
Portanto, não existe isso de “focar no interior” como querem os estóicos. O exterior empresta a motivação às nossas ações.
Por exemplo, quem me vê sempre falando de saúde pode pensar: “Ah, o cara só fala disso, que idiota.”
Porém, a consequência desse pensamento é a preguiça, a indisposição de mudar, que se torna resignação. E o que de melhor a pessoa vai fazer no domingo em vez de treinar? Dormir mais tarde? Ficar no Instagram? Comer hedonisticamente?
Eu não. Eu prefiro treinar diariamente, sem esquecer da criatividade e do aprendizado. Quem acha isso futilidade já desistiu da vida. Nietzsche chamaria isso de niilismo.
A diferença está na consequência das nossas ações baseada em evidências.
O que se sabe sobre dieta — cujo significado original é “modo de vida” — é que a melhor, e inquestionável, é a do Mediterrâneo, que leva à maior longevidade.
Como é difícil realizar um estudo que sirva para cada indivíduo, pois é impossível acompanhá-los por toda a vida, o que importa é sempre a singularidade.
Porém, nota-se que, em média, os povos que vivem bem e muito são aqueles que estão sempre em movimento. E hoje eu tenho o mérito de, ao longo do meu dia, estar mais em movimento do que parado.
São raros os momentos em que fico parado. Não consigo atualmente ficar mais de 90 minutos parado — e isso só por falta de opção. Digo 90 minutos porque é justamente o tempo de duração de uma partida de futebol.
Porém, acabada a partida, eu vou andar para refletir sobre o jogo — não só o jogo de futebol, mas o jogo da vida.
PARA + ARTIGOS INTELIGENTES, ACESSE MEU SITE ATRAVÉS DO LINK ABAIXO:
https://daveledave.recantodasletras.com.br/publicacoes.php