Majoritariamente, quem me lê são mulheres. Os comentários também. Quase em sua totalidade. , aquelas que passam mais de 30 minutos — ou mais de uma hora — não me deixam dúvidas: são mulheres.
Os de 30 segundos, que me visitam com inveja e saem tão rápido quanto suas próprias ejaculações precoces, não me preocupam. Esses não ficaram porque não eram para ficar.
Essa afinidade com o público feminino se dá pela minha androgínia máscula. Elas reconhecem em mim o que há de belo no próprio sexo.
Não sou especialista — até porque não se é especialista em algo tão complexo quanto mulher. Mas também porque o indivíduo cuja singularidade sobrepõe o gênero se coloca além disso.
A maioria dos homens trata as mulheres como se fossem homens com seios e vagina. Sem a mínima empatia, sem nenhum conhecimento sobre as diferenças estéticas, perceptivas, sensoriais.
Nem mesmo sabem que elas têm mais estrogênio, menos testosterona. Que sua pele sente mais. Que a conversa importa. Que o cheiro importa. Que a emoção, sim, importa.
Elas valorizam o corpo que fica bonito vestido — o corpo magro. Valorizam o emagrecer não por vaidade, mas porque querem caber de novo naquele vestido 38.
São saudosistas de uma época em que usavam roupas mais magras. Não para exibir-se, mas para se sentirem bem. Talvez mais para si mesmas — ou para outras mulheres — do que para qualquer homem.
Quando vejo uma mulher vendendo um vestido 38, isso me mostra duas coisas. E não, não é necessariamente que ela está precisando de dinheiro.
É que ela não cabe mais naquele vestido. Mas ainda assim o posta com orgulho. Porque um dia, coube.
Porque um dia, sua cintura era provavelmente 68 ou 72 cm. E nessas proporções, difícil uma peça não cair bem.
E então vêm os homens, com sua aberração estética. Camiseta regata que mostra o braço, mas esconde a barriga. Estampas que tentam maquiar a acne.
Moletons surrados. Calça jeans colorida. Camisa de time de várzea. Ou de marca de suplementação.
É uma estética do desleixo, da caricatura, da fuga de si.
Veja Raíssa Leal: patrocinada pela Louis Vuitton. Sabem por quê? Porque ela é magra, jovem e influente.
Jamais uma/um fisiculturista será garota-propaganda de moda ou de uma grife. Porque sua estética é freak show, o avesso do bom gosto e da sofisticação.
Eles usam tanga de Tarzan — não camisa com corte fino.
Nem de todas eu entendo. Porque o indivíduo precede seu gênero. A pessoa, acima de tudo, importa.
Mas há uma que me escapa. Ela estava mais presente no momento ruim.
Agora, sua presença é invisível — mas essencial. Como o ar.
E como o ar, às vezes esfria. E me faz adoecer.
Mas focar nos sentimentos do outro é contraproducente. Porque não posso controlar.
Mantenho-me, então, naquilo que posso, dentro do possível, controlar.
Apesar de tudo, o amor que sinto já me basta. Ele é combustível. Se é correspondido ou não — é indiferente.
Como diz Jean Ferrat: “Minha garota não é artista de cinema.” Ela não para o trânsito. Talvez nem mesmo a faixa de pedestre. Ela não é capa de revista — nem mesmo capa de leite da sessão dos desaparecidos.
Ela pode não ser a mais magra, nem a mais bonita, nem a mais gostosa.
Mas é a mais adequada. Adequada para mim. Ao meu gosto.
E isso basta.