Triste é o relato que ouvi de alguém que, após conhecer o sucesso temporário e morar sozinho, fracassou e voltou a viver com os pais. Entrou em depressão e, na atividade física, se encontrou — mas como escape. Uma dependência destrutiva que, ao mesmo tempo que salvou, destruiu. Demorou a perceber isso, e, contraditoriamente, acabou levando a problemas de saúde.
Longe da minha realidade. Apesar de reconhecer que a dopamina — o neurotransmissor da recompensa — é um vício que tenho, tudo o que fiz foi sublimar uma dopamina antinatural e nociva por uma vontade: a vontade de potência. Transformei esse impulso em hábitos saudáveis, em uma rotina consistente.
O que me diferencia é a lucidez — fruto da sabedoria conquistada pela experiência, mas também, é claro, pela dor e sofrimento. Saber mensurar as oscilações da vida, distinguir com precisão o que me faz bem e o que me faz mal: essa é a verdadeira força.
ENTRE HAMLET E O COVEIRO
A força que tenho para sustentar determinado estilo de vida provém do fato de eu ser como Hamlet — sempre superior intelectualmente ao meu interlocutor, esteticamente e culturalmente. Talvez, como o príncipe dinamarquês, eu só perca na sabedoria de um popular diante da morte, como a do coveiro.
Acho que nunca conversei com alguém diante de quem eu me sentisse intelectualmente inferior. Desde a escola, meu professor mais brilhante, com três formações distintas na USP, Ronaldo, se impressionava. Eu sabia o nome do filme em que o cavaleiro joga xadrez com a Morte e o nome do diretor. Ele só conhecia porque o filme se passa num período histórico importante — a peste e as cruzadas — e fazia parte do ofício dele.
Outro professor de história se surpreendia que, ainda adolescente, eu dizia que era um erudito, enquanto os outros eram obtusos. Ele dizia que este Brasil é surpreendente por permitir que eu existisse num lugar como aquele. Era o mesmo que nos passava filmes como Grease e um clássico do expressionismo alemão de Polanski em que aparece sua mulher morta por Charles Mason, retratado no filme recente de Tarantino. Mas com final satírico e feliz, a medida do possível.
Minha vingança é contra a professora de matemática, que dizia que eu só sabia fazer bagunça — e nem era uma bagunça inteligente. Hoje, estou com menos idade do que ela tinha quando me dava aula, e comparar meu nível intelectual com o dela é como comparar o conteúdo de um babuíno com o de um ser humano.
Esse conteúdo é a melhor resposta que dou à mulher que disse para minha mãe desistir de mim: uma escriturária da prefeitura — desses conservadores medíocres que acham que têm a vida feita só porque passaram num concurso.
Reativos. Não sobreviveriam como empresários ou no mundo corporativo, onde todos sabem que está a maior remuneração. Sei que uma pessoa é medíocre quando o sonho de consumo dela é passar em concurso.
E para aprender, preciso de motivação em assuntos interessantes — e não tenho tempo a perder.
Quando eu fizer 60, acho que vou viver como um eremita. Viver só de cultura, atividades intelectuais e, claro, exercícios físicos — porque é isso que vai me manter ativo.
Sou grato pela oportunidade de ter aprendido sobre dieta e saúde física tão rápido. E fui escalando. Primeiro começa, depois melhora. Mas eu melhorei muito rápido.
Graças à era em que vivemos. E eu sou símbolo da nossa era: de quem sabe tirar o melhor proveito para si. Muito graças à minha capacidade de adaptação, evolução e aprendizado.
Brevemente, aprendi os cálculos de gasto calórico — fórmulas que nenhum nutricionista faria por mim.
• TDEE (Total Daily Energy Expenditure): gasto energético total diário.
• NEAT (Non-Exercise Activity Thermogenesis): gasto calórico de atividades não relacionadas ao exercício (como andar, lavar louça, etc.).
• TMB (Taxa Metabólica Basal): energia mínima para manter funções vitais em repouso.
• EAT (Exercise Activity Thermogenesis): gasto com exercícios planejados.
• TEF (Thermic Effect of Food): energia usada na digestão e assimilação dos alimentos.
O insight que eu tive foi entender que as calorias que consumo dos alimentos devem cobrir meu NEAT + TMB. Tudo que gasto além disso entra como déficit calórico. Isso torna tudo sustentável.
E a inteligência e sagacidade de saber que não devo me machucar, que consistência é o que gera o melhor resultado.
Usar a balança e deixar tudo ao meu controle me dá força sobre as minhas ações. Gamifico meus objetivos. Medir minha evolução como se fosse um RPG (Role Playing Game, ou jogo de interpretação de papéis) é algo que eu sei fazer.
Mas o mais importante: o bom gosto estético. Essa superioridade de gosto que me é inata — é isso que me faz desfrutar melhor da vida, com beleza. O gosto estético é saber avaliar os corpos belos e os feios. E um corpo belo é um corpo bem vestido e com conteúdo.
Por isso, ao me exercitar, não abro mão de aprender, ler, ouvir. Não perco meu tempo só com exercício de forma niilista. Assim, tenho mais prazer na atividade e ela se torna sustentável. Não vira apenas “tempo que eu falo que é droga, mas é um mal necessário”.
O exercício se torna um local que libera dopamina — não só pelo exercício em si, mas pela convivência social e, principalmente, porque se relaciona com momentos agradáveis de leitura, aprendizado, filmes… Tudo o que consumo é alimento pro meu cérebro e meu site: daveledave.recantodasletras.com.br
Mas eu queria dizer que o que me motiva é só um sentido nobre em ajudar o próximo através da minha imagem e inspiração. É, sim, algo muito mais comezinho:
O que me motiva é olhar as pessoas de cima pra baixo.
Julgar mesmo: os feios, os gordos, quem come gordura saturada, quem bebe refrigerante… Comparar meu conteúdo e exuberância.
Ver alguém gordo ou invejoso é o maior combustível pra minha ação — e principalmente as críticas. Eu sou faca na caveira. Não tem meio termo.
Sou acima da média. Talvez, 1% da população.