No ambiente da academia, os homens observam os músculos de outros homens como quem compara o tamanho do pau.
Há uma tensão homoerótica ali, mal disfarçada por testosterona e whey protein, enquanto deveriam olhar mais para a barriga — muitas vezes tão grande quanto o próprio músculo.
É curioso como se fixam no tamanho do braço, mas ignoram o abdômen estufado que contradiz a estética que dizem cultivar.
Se conhecessem um pouco de mulher, saberiam que o que mais se valoriza no universo feminino não é o braço hipertrofiado, mas a capacidade de emagrecer.
Há o caso da Roberta, nutricionista, que contou que uma paciente se orgulhava de vestir as roupas da filha de sete anos. Isso, no imaginário feminino, é um troféu.
Existe uma ética do emagrecimento entre as mulheres. Uma disciplina. Um ritual. Um projeto de vida.
É diferente, por exemplo, o caso dessa mãe e filha, do fato de eu conseguir, de forma saudável, vestir roupas de adolescentes de 16 anos. Em mim, isso não é símbolo de vaidade. É símbolo de controle.
Outra questão é a incapacidade masculina de ler a linguagem corporal feminina.
O que será que significa, toda vez que chego — há duas semanas — aquela professora bonita bater o olho em mim, dizer que sou “estiloso”, arrumar a própria roupa e se maquiar?
Eu, que não gosto desse adjetivo “estiloso”. Me parece algo espalhafatoso. Prefiro a minha elegância sóbria, quase ascética.
Mas sei que esse tipo de resposta visual feminina é um sinal. Um gesto. Um código. E poucos homens são alfabetizados nisso.
E essa elegância só se consegue sendo magro. Para que a roupa tenha um bom caimento em um corpo saudável.
Na época em que eu era mais jovem — e ainda transava — as parceiras não elogiavam o tamanho do meu pênis (ok, às vezes sim, mas mal dá pra confiar nesse tipo de elogio vindo de mulher).
Elas elogiavam, acima de tudo, a minha barriga pequena.
Não ter barriga aos 21 é quase natural. Aos 33, é complexo. É resistência. É escolha. É disciplina.
O fato de eu tentar alcançar, primeiro, 12%, e depois 10% de gordura corporal, passa por tudo isso.
Mas não para agradar alguém.
E muito menos uma mulher.
Fazer isso por outra pessoa — e principalmente por uma mulher — é não entender nada de mulher…
E entender muito de homem.