Como assim amar alguém que não existe, se a única coisa que me liga à pessoa que amo é justamente o fato de ela simplesmente existir?
Porém, e se todo amor não for nada mais do que uma imagem espelhada e refletida do próprio amor — um reflexo que sequer encontra paralelo na vida real?
Quando a convivência cotidiana modifica, desafia e até nega essa realidade ideal, aí se revela o verdadeiro desafio do relacionamento. Porque a osmose do amor — esse entrelaçamento diário — é um acordo mútuo cujo estágio mais alto é a ternura desinteressada.
Eu amo uma ideia, uma convicção, um valor. Amo o que se manifesta através da pessoa que os encarna. Se ela é real ou não, se está comigo ou não, torna-se indiferente para o que me move por dentro.
Mas, se a espiritualidade desse amor me eleva e me enche de uma felicidade quase sagrada, a ausência física e material me machuca. E me devasta.