A pessoa acredita que, ao negar a existência do objeto, ele simplesmente deixa de existir. Como se fosse possível apagar alguém do mundo subjetivo apenas excluindo sua presença concreta — seja por ciúme, medo ou ressentimentos.
É uma tentativa quase mágica de deletar o incômodo, de higienizar a memória afetiva. Uma superstição emocional.
Nunca entendi essa ética da fuga e da covardia. Essa convicção ingênua de que basta evitar para que cesse, basta sair para que desapareça, basta bloquear para que cure.
O coração fala uma coisa, a atitude executa outra — e o descompasso entre os dois quase sempre anuncia um erro.
Também nunca entendi o ciúme que se volta contra um objeto externo — como se o outro fosse culpado por despertar o que já existia. Ou, pior, aquele que se volta para dentro, como culpa, como autoboicote, como autoflagelo.
A pessoa se recusa a lidar com o desejo não correspondido, então culpa a si mesma ou a qualquer terceira figura que passe. O real problema — que é o desejo ferido — é varrido para debaixo do tapete do recalque.
Só aceito o ciúme transcendente da Kelly Key, do “Baba, baby… baby, baba… olha o que você perdeu! Agora eu sou mais eu!”, que só é alcançado pelo desenvolvimento pessoal — físico e intelectual — de refinamento de gosto, humor. A única vingança aceitável é que a pessoa esteja com seu companheiro e pense: “que tédio”, ao compará-lo conosco.
Esse ciúme que não prejudica ou faz mal a ninguém — pelo contrário — só nos beneficia.