Sartre diz que o ser humano está condenado a ser livre.
Eu adiciono que o ser humano está condenado a se mover.
E, por fim, está condenado a pensar.
Três coisas que fazem parte da natureza humana.
Essa onda recente de cuidado com o corpo — que dizem ser uma “novidade” — é apenas parcialmente verdadeira. E, no fundo, uma mentira conveniente.
Primeiro, porque a parcela da população que de fato se cuida é infinitesimal em comparação com a multidão de sedentários.
Segundo, porque os antigos — os gregos — já tinham como pilares justamente esses três aspectos: o cuidado com o corpo por meio da atividade física, o pensamento, e a liberdade do espírito.
Foi depois de Sócrates e Platão, no ponto exato que Nietzsche enxergaria como o início da decadência grega, que tudo começou a mudar.
A primazia do pensamento se impôs em detrimento ao corpo.
E a liberdade foi traída pela ideia de que o corpo aprisionaria o espírito.
Nietzsche ainda propõe a atividade física como forma de superação — mas até ela pode ser niilista:
Seja niilismo ativo criativo, quando feita com propósito.Seja niilismo reativo, quando feita sem direção — um acúmulo de massa amorfa, às vezes até movido a drogas.
É completamente diferente de quem busca um corpo funcional e elegante, onde a atividade física potencializa a criatividade, a liberdade e o pensamento.
Parece paradoxal, mas muitas pessoas não associam atividade física à saúde.
Ou só a praticam por medo.
Isso porque não enxergam recompensa direta na ação.
Mas quando o movimento envolve prazer — como no turismo, quando as pessoas caminham por horas sem perceber — o tempo voa. O corpo agradece.
O melhor método para fazer alguém se exercitar?
Sobreviver a um infarto.
O exercício se torna a primeira prescrição médica — um objetivo que vem de fora, e a pessoa precisa internalizar para aderir.
Curiosamente, é assim também que nascem os vícios: alguém sugere, a gente internaliza, torna hábito, e busca as recompensas.
Mas antes de experimentar, ninguém sabe qual será a recompensa. O prazer.
Com a atividade física, é igual: se você experimentar, torna-se hábito, rotina, e as recompensas são inúmeras.
A longo prazo: saúde, criatividade, desenvolvimento pessoal.
A OMS recomenda 150 minutos semanais de atividade física moderada a intensa.
Mas esse parágrafo nega a realidade.
É pensado apenas para um estereótipo: o homem branco, rico, bem-sucedido, com tempo e estrutura para encaixar isso na rotina.
Não reflete a vida da maioria.
A atividade física, assim como a suplementação, a dieta, e as fontes de proteína de qualidade, ainda são um privilégio de elite.
Enquanto isso, o cidadão comum, pobre, é desconsiderado.
A atividade leve, desprezada.
Mas o simples fato de fazer algo em vez de nada já promove um ganho de saúde exponencial, dentro da realidade de cada um.
Afinal, pensar, ser livre e se mover é algo humano, demasiadamente humano.
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