Há diversas éticas — e essa palavra muda conforme o tempo. O que era ética para os gregos de Aristóteles não é o mesmo para Kant, tampouco após o pós-modernismo.
Hoje, é comum falar em “ética de cada profissão”: dos médicos, dos advogados, até do crime organizado — todas elas regidas por um campo social e pelos agentes sociais pertencentes a ele.
Se já são muitas as éticas, ainda mais são as morais e os valores morais — a ética relativa e aplicada a cada ser humano.
Há o imperativo categórico da moralidade kantiana, a moral do bem e do mal cristão, e também a nietzschiana, para quem o bom é o que expande minha vitalidade, e o mal, o que a diminui.
A moralidade contemporânea gosta de medir a vida boa pela felicidade — como se a felicidade não fosse relativa e subjetiva, e pudesse ser mensurada.
Fala-se em “bem-estar subjetivo” como medida de felicidade, que seria consequência de boas escolhas e bons hábitos de vida.
Esse consequencialismo integra a escola do utilitarismo, cujos maiores intelectuais são Jeremy Bentham e John Stuart Mill — uma tradição bastante anglo-saxônica. Segundo a moral utilitarista, a fórmula da felicidade é: quanto mais prazer uma pessoa tem, mais feliz ela é. Portanto, prazer = felicidade.
Como se o hedonismo em si fosse algo benéfico — sendo que ele pode levar à ruína, caso carregue consigo o padecimento da alma e do corpo. O oposto do hedonismo saudável pregado por Epicuro.
O consequencialismo afirmaria que a felicidade é resultado de nossas escolhas presentes.
Isso leva à cadeia do utilitarismo: o valor de algo se mede por sua utilidade, e tudo só vale por outra coisa.
Por exemplo: estudar serve para passar no vestibular; o vestibular para se formar em uma profissão; a profissão para conseguir dinheiro; o dinheiro para comprar algo desejado; e esse objeto valerá por outra coisa — numa cadeia sem fim.
É a lógica do mundo da técnica, onde ninguém mais almeja valores transcendentes.
Mas a felicidade deveria valer pelo momento da atividade. Estudar pelo estudo. Pelo prazer de aprender. Trabalhar pelo prazer de exercer a profissão. E só então a felicidade ser consequência das ações — que, por si mesmas, são inúteis.
O aprendizado que é um fardo não vale de nada. E daí não pode resultar nada de bom.
O bom conteúdo e a cultura devem sua grandeza justamente à sua inutilidade.
O senso comum é aliado da felicidade como consequência do mundo da técnica e do utilitarismo.
É ele quem avalia o ser humano pela média — não pela distinção.
Avaliar o ser humano pela média é dizer que algo é bom porque serve à maioria. E desconsiderar os indivíduos que se destacam.
Por isso fujo da mediocridade da média e busco sempre a distinção singular da minha especificidade.
O gosto médio é banal. A dieta média é banal. O conteúdo médio, a elegância média, o corpo médio — todos são normais, e por isso, desprezíveis.
É por isso que busco sempre a distinção dentro da minha especificidade.
Essa é a receita da minha singularidade em busca da felicidade inútil — a minha fórmula para uma vida boa.
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