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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

A ALUNA BONITA VIROU UMA BONITA PROFESSORA:


 


 

Meus leitores mais assíduos se lembrarão da aluna bonita do meu “curso” de quarta. Pequeninha, uma liliputiana diante de mim — mas bonita e elegante.

 

É a única pessoa parecida comigo em todo o curso: cabelo preso, camisa social e calça jeans, acima da canela, exibindo uma data: 1919.

 

Fico me perguntando o que será essa data. Pode ser o fim da Primeira Guerra Mundial e início do Tratado de Versalhes. Ou a inauguração do fim da República de Weimar e o surgimento da nova Alemanha. Pode ser a ascensão de ideologias revolucionárias bávaras, a revolução sindicalista no Brasil, ou simplesmente a data de um ancestral.

 

A data do nascimento dela seria improvável — mas, pelo minimalismo em preto, a minha imaginação quer acreditar que seja a data da inauguração da Bauhaus, na Alemanha. Justamente a escola que pregava o minimalismo — igual à tatuagem dela.

 

Oportunidades para perguntar não faltarão.

 

Mas o plot twist já era previsível: ela não era aluna, mas professora. Por isso se parecia mais comigo. Uma versão genérica de mim, quase — apesar de eu ser o aluno.

 

E essa mudança da imagem pequenina dela, de aluna, para a de professora, mostra a relação de poder, como dizia Foucault. Agora, como professora, ela ficou imponente — mesmo pequena.

 

Ela falou sobre racismo ambiental, com um viés fortemente de esquerda.

 

O assunto chamou minha atenção só parcamente, e preferi escrever meus memes no Recanto das Letras. Contudo, já vinha à minha cabeça um tema muito mais abrangente: a violência objetiva, de Zizek, enquanto eu pensava no livro A Distinção, de Pierre Bourdieu.

 


 

EU NÃO PAREÇO. EU DISTINGO.

Eu moro na periferia — e não parece.

 

Eu vou à academia — e apesar do físico e atleticismo, sou dissonante.

 

Eu sou aluno — e, de fato, não pareço.

 

Eu não pareço ninguém.

E ao mesmo tempo, pareço comigo mesmo.

Algo genuinamente meu. Original.

 

É a distinção social, cultural, de elegância, que é a verdadeira raiz do homem — essa capacidade de, através da moda, da postura, da visão de mundo, expressar-se em oposição simbólica ao mundo ao redor.

 

Foi isso que me fez achar que a aluna não parecia aluna — e era, na verdade, professora.

 

E não me surpreenderia se tivesse uma tatuagem em homenagem à Bauhaus.

 

Mais ainda: mesmo que as pessoas imaginem que sou distinto, nem passaria pela cabeça delas que, enquanto me mostrava disperso na aula, eu estivesse, na verdade, escrevendo no meu site um texto como esse.

 

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 19/06/2025
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