Eu sei que só vou ser uma boa companhia para os outros se eu o for para mim mesmo, pai. Que a melhor forma de ajudar o próximo é ajudando a si.
Acho que o dom — ou mérito — que tenho é o de jamais querer passar por algo que eu não sou.
Se pareço atlético, eu sou.
Se pareço culto ou entendedor de música, é que já vi ou assisti um ou outro filme.
Mas tem gente que quer parecer aquilo que não é.
E também há quem negue o mandamento e o conselho de Delfos — que, segundo a lenda, significa “golfinhos que foram transformados por Zeus para dar conselhos”.
É significativo isso, porque no Guia do Mochileiro das Galáxias, Douglas Adams pinta os golfinhos como os mais inteligentes da Terra, à frente dos seres pandimensionais — que são, na verdade, os ratos.
Para Adams, eles é que faziam experiências conosco, e não o contrário.
Portanto, golfinhos são sábios.
E diziam: “Conhece-te a ti mesmo.”
Essa é a ética da insatisfação comigo mesmo.
Com meu físico e aparência.
Buscando constante evolução.
É isso que me norteia.
E também a relação com as minhas relações com o mundo:
como ele me influencia,
o que me faz bem e o que me faz mal.
A pessoa certa pra você é a que aumenta a sua potência na presença dela —
não só no sentido físico, da ereção,
mas também espiritual.
Esse tempo nublado, frio, cinzento — que, justamente, é bom pra ler e namorar, como canta Djavan — é o que faz melhor à minha disposição e fisiologia.
Ao contrário do que muitos acham, e que prova que cada natureza é singular, eu prefiro respirar o ar de fumaça de São Paulo do que o ar puro do campo.
Sou uma figura citadina.
Um Faria Limer que mora, por circunstância do destino, na periferia.
Com sotaque carregado de paulistano.
Um típico paulistano — como se pode comprovar nos meus áudios que vocês escutam por aqui.
Não negar quem eu sou, as relações boas que me favorecem, e buscar isso em outrem — mas principalmente em mim mesmo — faz parte do meu modo de vida.
Graças à sua sabedoria, ô pai.
Com tua graça nos dias dos namorados — essa data profana que combina bem com minha proposta de oração laica ou herege:
AMÉM.