Quando eu critico, ainda assim é uma forma de distinção, pois vinculo minha assinatura ao objeto analisado — ainda que negativamente. Toda unanimidade é burra, mas a do Recanto é mais unanimidade que todas, if you know what I mean.
Há o criador do estilo de poesia redonda, talvez apropriadamente batizado com esse nome em alusão ao formato da parte final do sistema digestivo, mais conhecido por seu apelido de duas letras.
Fui dar uma espiada nos seus artigos para comprovar se não era só a poesia que ele maltratava. Apesar de ter centenas de ventríloquos que batem palmas nos comentários para esse maluco dançar — ou recitar e escrever, no caso — sua consistência infértil se mantém nos artigos mais densos, para surpresa de absolutamente ninguém.
No seu último artigo, ele fala do mito da caverna numa linguagem tão troncha — nem acadêmica, nem bela — que me faz até pensar em parar de gostar de filosofia. Alguns autores escrevem sem estilo algum, e parece mais uma redação de vestibular com mais linhas — ou seja, mais desperdício de tempo pra quem lê.
Alguém já viu redações mais sem conteúdo e decoradas do que as mil do Enem? Uma vez ouvi duas conhecidas que tiraram mil (ou quase), e vendo a produção literária delas, me tornei cético quanto a essa tal “acuidade” dos vestibulares.
É claro que não vou citar nomes. Só dos que vou elogiar.
Tem a autora psicóloga com nome de apresentadora de programa infantil (que virou programa de adulto), cujo texto dizendo que acabou de ir ao banheiro aparece em primeiro lugar no pódio do Paulo Miranda e tem mais de mil comentários. É claro que os comentários não passam de cinco palavras, mas também, fazer o quê?
Porém, há de se admitir: ela tem um estilo próprio. E apesar da sua psicologia de senso comum (que não é pra mim), ela não é nem acadêmica nem pedante — e merece o sucesso que tem, fruto da mediocridade do RL.
Ambos, no entanto, não são algo que você pense: “Ah, vou gastar 3 minutos aqui que vai valer a pena porque ficarei mais sabido.” Talvez o contrário seja mais preciso.
Eu gosto mesmo é do Miguel Carqueija. Quase octogenário, mas jovem em espírito, corpo e escrita. Sempre coerente, sempre interessante, edita e escreve bem seus textos e sempre entrega algo bom de se ler.
O “Filosofia e História Fácil”, talvez, em ecumenismo e conteúdo, só perca pra mim mesmo.
E o Seu Gogo? Acho que a armadura dele impede o pensamento. Ele é bom, mas só escreve a mesma coisa. Uma nota só. É bom porque, antes de ler, você já sabe o que será dito — e economiza tempo.