Relendo Ecce Homo, livro autobiográfico e confessional de Nietzsche, no qual ele mais intimamente revela seu método de vida, sua sabedoria.
Nietzsche dizia que Espinosa era seu irmão. E é assim que vejo Nietzsche, pelo tanto que ele me influenciou e os filósofos que mais aprecio. Mas hoje já absorvi o ensinamento mais importante: a filosofia coincide com a minha, mas é a dele — não a minha. Eu devo criar a minha, porque meu corpo é singular, diferente do dele ou de qualquer pessoa.
Nietzsche era doente, herança genética dos pais e da Sifilis, que contraiu em um Bordel quando ainda era jovem. Por isso vocês não sabem, mas a maior parte da erudição dele era médica: o autodidatismo que ele mesmo cultivou para se curar, entender sua condição, sua enfermidade — e pegar sua doença pelas mãos para conseguir sobreviver apesar dela.
E ele transformava até a doença — dores de cabeça de dias consecutivos, estupor — em criação, em algo feito a partir de seu estado fisiológico do momento. E eu me idêntico: não sou doente por genética, mas por aquisição. Fui ex-dependente químico. Ambos sabemos da decadência fisiológica e do significado da dor — e de como transformá-la em resiliência, transformação, criação. Não em ressentimento contra o outro ou contra a vida.
Hoje já consigo abstrair o que me convém da filosofia dele — e o que eu nego. Aliás, ele não teve muito sucesso amoroso com as mulheres, não era saudável como eu, atlético, elegante, bonito, e não viveu experiências mais dionisíacas que eu. Embora ele se diga dionisíaco, se vemos sua vida, há muito pouco de Dioniso ali. Ele fica só na ideia. Eu vivi o dionisíaco na prática.
Ele fumava ópio, mas não bebia álcool. Eu… há poucas drogas que eu não tenha experimentado e compreendido o efeito no corpo. E se digo “não” a venenos como álcool, alimentos processados, drogas lícitas e ilícitas — é pela experiência adquirida ao longo da vida.
Eu já sabia tudo isso desde meus 23, mas a hipocrisia da adicção não permitia que eu vivesse a sabedoria que adquiri com a experiência de leituras, filmes, aulas e a vida. Hoje, forte, lúcido e sóbrio, vivo escatologicamente a filosofia dos meus mestres.
Mas, como diz Nietzsche, retribuímos mal ao mestre quando nos tornamos para sempre seu discípulo. Hoje procuro meus próprios discípulos.
Não há dúvida de que nunca vou ser tão erudito ou talentoso como Nietzsche. Porém, em termos de vontade de potência, afirmação da vida, sentido estético — sou muito mais forte que ele.
Acho que disso não há dúvida. Mas isso porque ele nasceu na época errada. Ele já nasceu póstumo. Eu também. Mas nasci num momento melhor do que ele.
E o que mais prejudica minha fisiologia, é vulgaridade e o banal. Eu, um Dandi contemporâneo, um esteta da vida. Não suporto a baixeza.
Por exemplo: minha erudição e inconformismo com o desconhecido são muito mais fáceis hoje. Ele teve que estudar em bibliotecas para aprender fisiologia médica por conta própria. Eu procuro no YouTube, na internet, falo com o ChatGPT. Me informo em um minuto sobre qualquer assunto.
Ora, os profissionais de ofício — médicos, advogados, engenheiros — podem saber mais do que eu por enquanto. Mas garanto: se eu pegar para estudar, vou entender melhor até que eles. Assim fala minha vontade de potência.
Dialogando com Nietzsche, lendo o Ecce Homo pela quarta vez (provavelmente), a cada leitura ele adquire um significado novo, conforme minha fase atual. Agora, meu entendimento do seu escrito, objetivo e solidariedade com sua trajetória, aumentou ainda mais.
Muitos acham que o livro é pedante e sinal do declínio fisiológico. Mas o ar dele é muito nobre — e os fracos não suportam a arrogância de quem conhece a si mesmo. Esse escrito é um grito de quem se sabe foda, sabe que sua hora de ser reconhecido vai chegar, porém a morte está próxima — então faz essa declaração de quem ele é, para não haver confusão.
E como podem dizer que uma escrita tão lúcida é sinal de doença? As pessoas não toleram quem coloca o pau na mesa — digo, a pena na mesa, o tinteiro e o papiro — e afirma: sou sábio mesmo, inteligente e foda pra caralho. Uma atitude de afirmação da vida, mesmo ele estando na iminência fatal de sucumbir à sua doença inexorável.
Mas a obra… é eterna.
Se você se incomoda com as alturas de Nietzsche, então talvez as alturas não sejam para você. Autoajuda é mais recomendada nesse caso.
É simbólico: nessa época, perguntei ao ChatGPT algumas questões que compartilho abaixo. A primeira delas: criar um script no aplicativo “Diário” para preencher diariamente, a fim de sempre me aperfeiçoar, mapear meus afetos diários e o que favorece (ou não) minha energia vital e força criativa.
No final, escrevo e peço pro Chat analisar, dizendo os pontos que devo melhorar. Abaixo compartilho a dialética entre a inteligência humana e a não-inteligência artificial.
Quem quiser copiar meu modelo, pode copiar. Mas não faça igual. Afinal, ele é resultado do meu corpo. Você deve procurar o do seu.
Avaliar pessoas, ambientes e ideias com base em como afetam sua energia pode transformar sua vida. Pergunte-se:
Nietzsche propõe critérios práticos e fisiológicos para avaliar a verdade. Temas recorrentes em seu pensamento:
Nietzsche defendia a autoexperimentação como método. Ou seja: viva como um cientista de si mesmo.
Prática: mantenha um diário nietzschiano por 30 dias. Cada dia, anote 3 perguntas:
Nietzsche fala da vida como arte. Então viva de forma estética e ética ao mesmo tempo:
Nietzsche critica a moral de rebanho e propõe que criemos nossos próprios valores. Isso exige coragem e observação:
A fisiologia, para Nietzsche, é o terreno da verdade.
Nietzsche valorizava o pensamento lento (“pensar a martelo”) e a caminhada como forma de clarear ideias. Evite o modo frenético de viver, que é próprio da decadência.
Nietzsche valorizava a sobriedade, leveza e clareza. Ele via alimentos pesados e intoxicantes como obstáculos à elevação do pensamento.
Ideias para alimentar-se filosoficamente:
Nietzsche propõe que não há bem ou mal universais — só aquilo que eleva ou rebaixa a potência vital.