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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

SOU CAPITALISTA DE ESQUERDA.



O RECANTO DAS LETRAS, ORGULHOSAMENTE, APRESENTA:



Sou capitalista de esquerda

Sim, sou capitalista — mas sou de esquerda. Tenho consciência de classe e sei de onde vim. Posso ser chamado de “socialista de iPhone”, mas a verdade é que sou um capitalista convicto, liberal e conservador. Escolhi o “menos pior” dos sistemas, pois o capitalismo é o que mais permite desigualdade, sim, mas também o que mais possibilita superação individual, liberdade de expressão e reconhecimento do egoísmo humano como força propulsora.

 

O egoísmo, afinal, está no cerne do homem. Cada um defende seus próprios interesses. E o problema não é o egoísmo em si, mas a alienação de classe, como bem previu Marx.

 


 

Um programa social desvirtuado

Participo do Programa Operação Trabalho (POT), um programa de capacitação e distribuição de renda para pessoas em situação de vulnerabilidade. E quem mais vulnerável do que eu? Fui um dependente químico. Entrei no POT no auge da adicção. Hoje estou saudável, são e forte — e, acima de tudo, consciente do meu lugar e dos meus direitos.

 

Recentemente, me posicionei no grupo sobre os limites legais das atribuições dos beneficiários do programa. Falei com base no contrato, na legislação e na ética. Mas, como já previa Marx, a alienação chegou até os próprios funcionários públicos. Absorveram a ideologia do patrão, desconsideram sua condição de trabalhadores e passam a cobrar dos beneficiários tarefas que não lhes cabem legalmente.

 


 

Alienação institucional e conivência coletiva

Em um grupo do POT, um beneficiário chegou a dizer que “se já estamos recebendo, está bom”. Esse tipo de pensamento mostra o quanto a alienação opera. O programa é assistencial e formativo, não um simples auxílio financeiro. Há quem confunda o POT com um emprego fixo. Outros se vangloriam de trabalhar “mais que os outros”, como se estivessem em uma disputa de eficiência com colegas que são, na verdade, seus iguais em vulnerabilidade.

 

E o mais grave: poucos funcionários do posto — médicos, administrativos ou efetivos — demonstram qualquer solidariedade. Cada um cuida do seu próprio interesse. Se fossem lançados no mercado corporativo, sem a estabilidade da “boquinha pública”, muitos não sobreviveriam. Isso é fato.

 

A administração quer subverter o programa social para tapar os buracos da gestão. Cobra dos beneficiários responsabilidades de funcionários concursados. Isso eu não vou tolerar.

 


 

A resposta é consciência, não submissão

É curioso notar o corporativismo dos médicos e servidores, que usam os POTs como escudo para trabalharem menos. Esquecem que, assim como os Mais Médicos estão no Brasil por um espírito de solidariedade institucional, nós também estamos no POT por um princípio de assistência.

 

Só que agora a situação está comigo. Eles estão acostumados a ouvir ouvidorias de pessoas sem saúde, sem estudo, sem voz. Mas esse não é meu caso. Sou saudável, já tive empresa, sou formado em Administração e Gestão da Qualidade, falo duas línguas e conheço bem meus direitos — e os deles também.

 


 

Gratidão não é submissão

Sou grato ao programa. Justamente por isso, faço questão de cumpri-lo à risca. Mas puxa-sacos e alienados não percebem que, como diz Clóvis de Barros Filho, só respeitam você se tiverem medo. Se sentirem fraqueza, montam.

 

Não ajo por vaidade nem por orgulho, mas por consciência de classe. Mesmo que meus colegas não entendam, se houver abuso, irei me posicionar.

 

Pedi, de forma educada e fundamentada, uma semana de folga — desde que não comprometesse o funcionamento do posto. Se ajudamos, temos que ser ajudados. Mas nos explorar para cobrir ausência administrativa é intolerável.

 


 

O contrato está do meu lado

Nosso cartão se chama “benefício”. Não somos funcionários. E os servidores efetivos, que recebem salários, não cumprem suas cargas horárias e agora querem usar os beneficiários para cobrir suas falhas?

 

Não irei tolerar.

 

Com respeito e ternura, sim. Mas com firmeza e assertividade.

 


 

Chega de abusos

A diretora ignorou minhas solicitações. Alguns colegas fizeram piada. Isso mostra que muitos sequer entendem seus próprios interesses. A gerente, inclusive, tem um filho e uma nora no programa — e eles não demonstram o mesmo comprometimento.

 

Como dizia Marx, chega de teoria. É hora da prática. Por minha natureza pacata, quiseram abusar da minha boa vontade. Mas não conhecem o guerreiro que luta por justiça. Eu não sou um incapacitado que faz ouvidoria. Eu sou a ouvidoria.

 

E agora, vou jogar o holofote na situação.


 


 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 08/05/2025
Alterado em 08/05/2025
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