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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos


NOSSO CORPO FALA:

 



O RECANTO DAS LETRAS, ORGULHOSAMENTE, APRESENTA:




Há mais razão em nosso corpo que em nossa melhor sabedoria. Ele dita nossas ações, pensamentos, falas.

O corpo sente, e a razão pensa como instrumento para atender à sua vontade. O corpo é uma grande vontade que molda aquilo que chamamos de razão.

 

Notamos como a sociedade molda e se faz corpo. O modo inconsciente que ruborizamos em situações de constrangimento, nossa pele esquenta, denunciando nossos desejos e pensamentos mais recônditos. O desejo pinga, escorre pelo corpo, denunciando-os sem que precisemos enunciar uma palavra.

 


 

A Pele Fala Antes da Boca

E a mulher, ao se sentir excitada, toca no próprio corpo, sorri involuntariamente, morde o lábio inferior, faz gestos lascivos e sugestivos no anel ou em objetos pontiagudos — espelham nossos gestos e movimentos.

 

O corpo também transmite uma mensagem para nós, mas também sobre nós, no mundo. Se sua barriga acorda inchada mais que o comum, pode ser sinal de má ingestão e funcionamento do sistema digestivo. Se estou gordo, é porque me alimentei mal; penso em maneiras para reduzi-la.

 



O Reflexo que Denuncia

E meu cuidado pessoal com o corpo mostra para as pessoas, sem que eu precise falar algo, meus hábitos e modo de vida. Antes, eu invejava a barriga de um senhor que trabalha comigo, achava ele magro em comparação com minha barriga protuberante. O mesmo da minha colega de trabalho que hoje, apesar da idade e de ela estar bem, percebo a flacidez de seu abdômen em comparação com o meu.

 

E como as imagens não mentem, basta observar meus looks diários. Acho que hoje ninguém cometeria a audácia de dizer que tenho barriga, sou pancudo — apesar de ainda não ser definido. Mas, se antes mirava essas pessoas comuns, hoje miro o Cauã Reymond ou o Cristiano Ronaldo. As coisas mudaram. Vertiginosamente.

 



Freud, Fellini e Pedro de Lara

E a influência vai até no inconsciente, no império dos sonhos, no qual habitam nossos desejos mais profundos — como analisaria Freud, como filmou Fellini e, por que não, como interpretava Pedro de Lara.

 



Sonho ou Presságio

No meu sonho de ontem de madrugada, sonhei que queria pegar um Uber pra chegar em casa. Encontro uma pessoa que foi internada comigo, que me oferece uma carona. Apesar de reticente, aceito.

 

Na vida real, essa pessoa era um daqueles machos meio tóxicos, mas inconscientes. Forte, apesar de seu histórico com crack. Gostava de falar que, na época da Cracolândia, rasgou um homem no meio da porrada. Trabalhou como monitor geral em clínicas de recuperação barra pesada, dormia no mesmo alojamento que eu. O meu era diferenciado, porque me colocaram ali pelo meu bom comportamento — que, claro, foi tudo planejado por mim para sobreviver o melhor possível naquele lugar inóspito. Se não pela força, pela sagacidade e adaptabilidade.

 

Apesar das diferenças, ficamos amigos. Mas eu sempre soube manter a distância. Pela minha aparência de engomadinho, picadilha de boyzinho, como se fala, professor intelectual. Ele gostava de “brincar” comigo, perguntando qual era o sabor de uma mulher e outras coisas mais inauditas, achando que eu iria titubear em responder. Eu não gostava — e não gosto — de falar sobre isso pela vulgaridade. Mas também não demonstrei fraqueza e respondia de bate-pronto. Logo, ele começou a mexer com outro, porque comigo ele não iria se subir.

 

Aliás, de bobo tenho só o jeito de andar. Esqueceram que sou adicto também — hoje ex-adicto. E como Noel na icônica capa de Masterplan, que dava aula para maestros, naquilo que ele queria me ensinar, eu era professor.

 

Como disse uma amiga no Recanto: é perigoso esses engraçadinhos com jeito de inocente, lobo em pele de cordeiro. Hoje sou inocente doloso. Culposamente inocente! Como diz Rafinha Bastos, eu já comi um pessoal ai…

 



Sobrevivente do Purgatório

Se fosse hoje na vida real, pelo meu porte físico, modo de vida e confiança, ele se montaria ainda menos em mim, e falaríamos de igual pra igual. Mas como a vontade de potência é inegável — e mesmo com meu porte físico debilitado, eu me impus — e, logo, vendo meu hábito, ele me pediu um livro emprestado. Eu emprestei O Homem do Subsolo, que ele leu e disse que gostou. Não sei se entendeu, rs, mas abandonou o livro porque virou gerente de lá. E eu consegui um aliado já na direção, facilitando ainda mais minha vida.

 

Me colocavam na lavoterapia mais simples, e com meus amigos — varrer o estacionamento, que só alguém que não vai fugir ou é velho são colocados. Justo eu, que no primeiro dia, como já relatei, me envolvi num plano de fuga. Porém depois percebi que não se foge do purgatório. E não era por ali que iria vencer no inferno e o diabo. Então fiz os jogos deles.

 



O Sonho Escurece

No sonho, no carro, ele começou a perguntar da minha vida. Relatei minha rotina rigorosa de exercícios e dieta, superação, e vida longe das drogas. Ele disse que iria pegar uma carreira num point bom e, se eu quisesse esticar… Eu repeti algo que se diz na clínica: “Vai em frente, quem não pode sou eu, amigo”.

 

Ele mudou o comportamento na hora e perguntou se havia um lugar mais fácil pra me deixar, sem ser na minha casa. Eu disse que poderia me deixar no primeiro ponto em que passasse um ônibus. Ele fez um desvio, entrou numa quebrada, foi surpreendido por uma emboscada de traficantes — na frente e atrás do carro — e eles o fuzilaram.

 

Eu me abaixei e continuei vivo. Mas preferi acordar. Vai que…

 


 

Nem Todos Suportam o Peso da Liberdade

E não são todos que demonstram a mesma força de vontade pra se recuperar como eu, não viu?

 

Que seriam capazes de encarar uma internação e estabelecer a minha rotina rigorosa de treino e alimentação. Se eu fosse pela cabeça das pessoas, seguir o conselho dos outros, fazer o que todo mundo faz, eu estava pesando 90 quilos.

 

Mas as pessoas não são iguais. E o que eu quero, não podem elas querer. Assim fala toda justiça.

 

Então prefiro seguir sempre meus próprios instintos, porque esse é o melhor caminho: porque foi escolhido por mim, estabelecido pelo meu corpo — expressão da minha vontade de potência singular.

 



A Linguagem do Corpo

O que significa esse hermético sonho, eu não sei. Mas meu colega de carona e internação foi pra vala — ainda que no sonho. Eu sobrevivi pra relatar a história.

 

Hoje estou limpo. Obrigado. E magro. Mas saudável, atlético e até forte. Não me intimido com ninguém — nem fisicamente, muito menos intelectualmente.

 

É claro que há viciados em drogas magros. Mas a magreza deles é doença. A minha é saúde. Conquista à base de rotina, treino, exercícios e disciplina.

 

Mas o meu corpo fala, mesmo contra minha vontade. Ele é expressão da minha vontade de potência.

 



DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 07/05/2025
Alterado em 07/05/2025
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