× Capa Textos Áudios Fotos Perfil Livro de Visitas Contato
DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos


Você é Fogo de Palha ou Hestia Sagrada?

 


 

APRESENTANDO:

Na origem da mitologia — que por sua vez se inspira na religião mais antiga dos antepassados — havia o culto aos mortos. A tradição primordial da humanidade consistia em acender um fogo sagrado no altar doméstico, o “lar”. É daí que vem a palavra que se refere à habitação mais íntima da família.

 

Esse fogo protegia, purificava e representava a presença dos antepassados enterrados no terreno da casa. Acreditava-se que eles viviam uma segunda existência sob a terra. Por isso, seus descendentes regavam o solo e enterravam objetos valiosos para que pudessem continuar a usá-los onde quer que estivessem.

 

Ainda hoje, nos Jogos Olímpicos, herança da cultura grega, há a chama que nunca deve se apagar. Essa chama sagrada tem nome: Hestia.

 


 

Chamas que Apagam, Chamas que Duram

O oposto de Hestia é o fogo de palha — aquele que arde rápido e se apaga em seguida.

 

A chama que arde em cada ser humano pode ser uma ou outra. E quando se é ex-adicto, a desconfiança constante é de que a própria chama seja de palha, pronta para uma recaída. Isso se estende a tudo: da recuperação à dieta, do treino à rotina, dos hábitos bons à disciplina.

 

É uma desconfiança compreensível, até que se prove o contrário e se conquiste a confiança de todos. Mas a amnésia seletiva e o esquecimento, ao contrário do que se imagina, são aliados de um pensamento saudável. A boa notícia: a sociedade é mais voltada ao presente e esquece rápido.

 



A Inutilidade da Poesia — e sua Grandeza

É comum ver pessoas começando motivadas na musculação ou na dieta, mas logo abandonando tudo, voltando aos maus hábitos, à indolência.

 

O mesmo vale para a poesia e sua prática. Quando se é jovem, antes da maioridade, todo mundo é poeta. Mas a vida adulta chega com suas exigências, a utilidade, o consumo, o trabalho. Continuar poeta nessa fase é coisa de profissional — e os socialmente úteis eliminam tudo que parece “inútil”.

 

E o que é mais inútil que a poesia? Leminski a chamava de “inutensílio”. Assim como o dolce far niente, o ócio criativo, o lúdico, o prazer pela arte, a leitura prazerosa, o cinema, o teatro. Tudo isso é esquecido… em nome do amor. Do amor ao dinheiro.

 



O Dinheiro: o Mais Inútil dos Úteis

O dinheiro é a expressão mais pura do mundo técnico de Heidegger — uma cadeia de utilidades. Sozinho, ele não vale nada. Vale pelo que pode comprar.

 

Mas deveria valer principalmente pelo tempo livre que proporciona, pelo deleite do inútil. O amor verdadeiro, um corpo bonito, inteligência, elegância — o dinheiro pode até comprar. Mas não compra bom gosto, talento, sabedoria, nem felicidade ou alma gêmea.

 



Estética Sem Sabedoria

Na academia, é visível a falta de gosto, critério e inteligência estética. Muitos treinam apenas para ficarem grandes, ignorando simetria e saúde. São burros de carga: treinam com força, não com o cérebro.

 

Sem método, sem objetivo, sem inteligência. Esforço cego é o contrário da maestria. O natural é fluido, inconsciente, leve — como uma dança. Nietzsche dizia: “Eu só acreditaria num deus que soubesse dançar.”

 

A técnica vem antes da carga. A nutrição vem antes do prazer. E é por isso que olho com desprezo para fast foods, chocolates em excesso, comidas de rua. E sorrio para quem se alimenta com parcimônia e sabedoria — não por gula, mas por resultado.

 



Corpos Inteligentes

Os corpos na academia revelam o que falta: sabedoria, estética, objetivo. Um monte de massa amorfa. Nenhum atleta saudável, profissional, tem mobilidade comprometida ou ausência de aptidão física.

 

Nos aplicativos de treino como o MuscleWiki ou o Nike Training, os instrutores são atletas — não fisiculturistas grotescos. São modelos de corpo atlético, não freak shows ambulantes.

 

A elite esportiva faz uma seleção natural dos melhores biotipos. Corpos definidos, atléticos, ágeis, céleres. É isso que procuro: ser poesia em movimento. Que me vejam treinar e reconheçam arte no gesto. Não quero gemer ao levantar peso como um burro de carga.

 



Do Futebol de Rua à Consciência Corporal

Maradona, meu vizinho — um baixinho que sofre de algum tipo de nanismo — me apelidou de Pelé quando criança, por causa da minha habilidade com a bola. Até hoje me chama assim. Hoje mesmo, ao me encontrar, ele disse: “Pelé, nesse pico que você tá, com certeza faz gol!”

 

Sempre ouvi que só não fui profissional por falta de disciplina. Eu gostava de jogar, não de treinar. Nem de fazer gols, mas de driblar e me divertir. Às vezes, nem vencer me importava. Se eu tivesse a disciplina de hoje, com a inteligência tática que desenvolvi, certamente teria virado profissional.

 

Faz tempo que não jogo, mas isso é como andar de bicicleta — não se desaprende. O que diferencia o atleta de elite do de várzea é o profissionalismo e o atletismo.

 



Treinar é Sobreviver

Hoje treino por prazer, mas sobretudo por necessidade. Para cultivar hábitos duradouros, saudáveis. Para mim, o treino é um marcapasso emocional. Quero enraizá-lo na minha vida — é questão de sobrevivência.

 

As pessoas são iguais, como na Revolução dos Bichos de Orwell, mas algumas são mais iguais que outras. Meu corpo responde bem à minha vontade, mas sei que não é assim para todos. Para os obesos, a dificuldade é maior. E o que mais desmotiva é a falta de resultados. Isso precisa ser compreendido.

 



Contra Mim Mesmo

Não sou contra gordos ou barrigudos, como Ruy Castro dizia sobre o álcool: “Não sou contra, sou contra eu beber.” Eu também não sou contra drogas, álcool, calorias — sou contra eu consumir isso tudo.

 

Não combina comigo, com quem quero ser, com a mensagem que quero passar. Mas é ridículo ser apenas uma coisa.

 

Tirar selfie no espelho da academia com um corpo questionável não mostra confiança, talvez narcisismo. Mas, sobretudo, revela falta de gosto. Pra mim, o conteúdo vem antes. A elegância vem junto. E o corpo esculpido é um invólucro necessário — um meio para a inteligência e elegância fluírem com saúde.

 

Se me exibo, é com um objetivo. Nunca por vaidade vazia. Que fique claro.


 



Chama Viva

Por isso, a chama que me move é Hestia — não de palha. Porque se a chama se apagar… eu morro junto com ela.

 

 


 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 03/05/2025
Alterado em 03/05/2025
Comentários