Uma piada feita pela conceituada revista Trivela, com aquele humor meio britânico típico do jornalismo esportivo, dizia respeito a um jogador que chegou ao Brasil vindo da Venezuela, mas que tinha toda a aparência de um argentino. A conclusão? “Pinta de argentino, futebol de venezualo.”
Eu gosto de usar essa ideia como metáfora pra minha própria estética. Porque ter uma boa aparência quando se está em guerra com a genética — entenda-se: tendência à calvície e ao acúmulo de gordura abdominal — é uma conquista, e não uma herança. É um esforço contínuo. É contigo.
Não que eu seja um “galã feio” como naquela página satírica… e petista… que acabou se perdendo na própria obsessão política. Eu estou em outro jogo.
Por exemplo, trabalho com um rapaz de aparência hermânica — um Paulo Ricardo jovem. E pra eu conseguir chamar mais atenção do que ele, não é fácil. Preciso cuidar intensamente da aparência, do físico, do intelecto. Só assim posso brilhar também pela beleza do pensamento. Bonito pelo intelecto.
Por natureza, já sou elegante. Então, no mínimo, seria considerado “bonitinho” — como se costuma dizer daquele feio bem arrumado. Agora, se além disso eu tenho um shape bonito, somo mais pontos. Ser interessante é um bônus. Ter cultura, mais ainda.
É assim que eu me destaco da massa amorfa.
O âmago da filosofia de Nietzsche talvez esteja exatamente nisso: mostrar que a verdadeira aristocracia nada tem a ver com herança genética, classe social ou conta bancária.
Ela é uma postura de espírito diante do mundo.
É aquela altivez que alguns espíritos nobres carregam naturalmente. Diz o senso comum que “estilo não se ensina”. Ou se nasce com ele, ou se está condenado ao bom gosto — o que já é uma sentença suficientemente nobre.
Estilo é arte. É personalidade. No Manual do Dândi, Balzac conta a história de um artista que recebe um aristocrata. Este, ao entrar na casa simples e elegante do artista, sente-se constrangido. A mobília de carvalho, sóbria e discreta, humilha sua sala ornamentada de prata e ouro. Ele percebe que o bom gosto do artista, feito de singeleza e distinção, não pode ser comprado.
O artista é nobre por excelência. Não se simula, não se imita. Mesmo quem tem dinheiro não pode comprar elegância.
E pra mim, é um privilégio: mesmo ganhando pouco, viver com mais estilo e conforto do que certos médicos. Tudo isso vem da distinção de espírito. Dessa altivez que não se adquire com dinheiro. Ou se é… ou não é.
Como diz Balzac, a propósito dos dândis: “Eis talvez um aristocrativo quando o vemos… mas, muito provavelmente, um Hércules sem emprego.”
É isso que me define.
E portanto… é isso que me faz ter pinta de modelo, quiçá de artista. Mas receber, efetivamente, um salário de auxiliar administrativo.