Mesmo quem nunca assistiu Dragon Ball Z — normalmente, losers nascidos depois de 2000 ou antes de 1990 — já se deparou com o meme em que Vegeta, o príncipe dos sayajins, olha para Kakaroto (vulgo Goku) com aquele misto de raiva e admiração e solta: “O miserável é um gênio”.
Goku é um sayajin órfão, como o Chaves — criado sem pais, vivendo entre terráqueos, e um dos poucos que conseguiu se transformar em supersayajin. Lembro perfeitamente do dia em que essa transformação, inédita na televisão brasileira, ia acontecer. Eu estava assistindo à Globo, claro. Mas justo naquele dia, 11 de setembro, Osama Bin Laden decidiu estragar tudo. A queda das Torres Gêmeas, a morte de milhares de pessoas, a implosão do ícone de Nova York… e a Globo achou por bem interromper a transformação de Goku para dar essa “notícia urgente”.
Sinceramente? Me pareceu um tanto irrelevante diante da magnitude do que Goku estava prestes a realizar.
No seu jeito peculiar — carinhoso, à sua maneira — Vegeta reconhece a genialidade de Goku. E faz isso do jeito mais Vegeta possível: gritando “o miserável é um gênio!”. É um elogio camuflado, quase involuntário, mas profundamente verdadeiro.
O contexto: durante a preparação para a luta contra Cell, Goku permaneceu transformado em supersayajin por todo o período de treinamento. Isso porque a transformação exige muita energia, e ao manter-se transformado, seu corpo se adaptaria, otimizando o desempenho.
Goku treinava com Gohan na Sala do Templo, onde dois dias equivalem a um ano na Terra. E foi ali que Vegeta, ao perceber essa sacada antes de todos, não se conteve. Foi como Miranda em A Tempestade, de Shakespeare, que ao ver um humano pela primeira vez, exclama: “Admirável mundo novo!”. Vegeta, com sua brutalidade poética, explode: “O maldito é um gênio!”.
E é justamente esse tipo de reação — de espanto, admiração, incredulidade encantada — que eu busco provocar com minhas expressões de espiritualidade aqui no Recanto. Nos meus escritos. Até mesmo nas minhas pequenas ações do dia a dia.
Mais do que ser reconhecido como alguém culto, elegante ou bonito, o que realmente me interessa é esse brilho nos olhos de quem lê ou vê o que faço. Essa exclamação involuntária, quase ciumenta, que mistura raiva com admiração: “O maldito é um gênio”.
Mas não existe milagre. Como se diz sobre o nascimento da filosofia na Grécia: todas as ideias, para brotarem, dependem de um universo polifônico de discursos.
O gênio, segundo o filósofo russo Mikhail Bakhtin, é aquele que organiza de forma inédita, coerente e original essa multiplicidade de vozes. Ele é um maestro da polifonia — capaz de dar forma ao caos das ideias, como quem doma um coral invisível.
Agora, há quem seja Jênio… com “J”. De jegue. Não com “G” de gênio.
Ou melhor, com “G” de Giovanna — com dois “n”, claro — sinônimo exato de genialidade, charme, caos e luz. Uma constelação de significados em apenas oito letras.