Iniciando minha série de textos sobre a série Adolescência — que talvez renda uns cinco ou mais textos — quero propor uma espécie de detonado. No mundo dos videogames, os detonados são guias completos sobre um jogo: do começo ao fim, com dicas, atalhos, segredos. E é exatamente isso que pretendo fazer com Adolescência.
Vou destrinchar tudo: a psicologia, minha experiência empírica e teórica, a forma, o conteúdo, tudo com embasamento. Um mergulho total no subtexto e no submundo da série.
Minha opinião é que Adolescência é um marco — obviamente — pela maneira como foi filmada: mais de quatro horas registradas em plano-sequência. O recurso é válido e foi bem executado, embora essa escolha técnica tenha influenciado negativamente o ritmo e o desfecho. Ainda assim, pela repercussão que gerou, considero que foi uma boa decisão.
Mas deixarei a análise mais técnica para outro texto.
O desfecho, pra mim, lembrou Lost — começa de forma apoteótica e termina mal. A boa notícia é que a série tem apenas quatro episódios. Gostei apenas do primeiro. Se a série fosse só ele — talvez um filme — já estaria de bom tamanho. O problema é que a série tenta responder às perguntas deixadas no ar, mas de forma extremamente insatisfatória. E o fim, que é a impressão final, é também o pior episódio: totalmente desprezível.
O terceiro episódio, no entanto, também é muito bom. Mas isso eu destrincharei minuciosamente em outro texto.
Inauguro esta série debatendo a tese exposta de que 80% das mulheres optariam por se relacionar com apenas 20% dos homens. Quem dera fosse verdade. Modéstia à parte, eu estaria entre esses 20%.
Mas a realidade é que 80% dos homens consegue uma parceira. Quase todo homem, por mais banal e ridículo que seja, tem uma companheira — ou ao menos um chinelo velho para chamar de seu. Esses dados parecem retirados da cultura incel e red pill, tentando justificar uma misoginia de ressentidos, um ódio às mulheres alimentado pela própria falta de relações.
Contudo, o número de homens realmente interessantes, extemporâneos, é muito menor do que 20%. A maioria segue tendências e uma moral de rebanho, influenciada por gurus de internet. Os verdadeiros criadores — por excelência — são minoria. Muito menos que 20%.
Mas isso vale para tudo. Super-ricos, bilionários, são menos de 5%. Os criadores também vivem mergulhados no banal.
Jaime se acha extraordinário, fascinante — como aparece no brilhante interrogatório. Ele nutre um sentimento platônico de amor e desejo pela psicóloga — muito bonita e sexy, por sinal.
Ela agiu com pragmatismo, fazendo seu trabalho. Mas… será que ela se sentiu atraída por ele? O que vocês acharam?
Ela demonstrou medo, receio. E no final, quando pegou o resto do lanche para ele com nojo, fica evidente: não, ela não sentiu atração. Ainda assim, Jaime exerce um certo magnetismo, uma vontade de potência exacerbada. O problema é que ele não sabe controlar seus instintos, seus impulsos.
Seus desejos não são voltados à criação, mas à destruição. Ele é um criminoso patológico por excelência — puro instinto sem direção.
Se a tese dos 80/20 estivesse correta, a maioria estaria fodida. E a raça humana correria sério risco de extinção por falta de filhos.