Ambos os nomes têm um ritmo fluido, com sílabas bem marcadas:
V. Mar-tins (5 sílabas)
G. Ri-bei-ro (5 sílabas)
O som alterna entre forte e suave, o que dá um ritmo poético. São nomes que soam bem quando falados em voz alta.
V. e G. têm raízes latinas e italianas, o que confere um toque clássico, elegante e atemporal.
M. e R. são sobrenomes fortes, tradicionais, bastante usados em países lusófonos — o que traz familiaridade e uma base sólida para nomes com prenomes mais melódicos.
V. carrega a força de “valente” com uma sonoridade delicada no final.
G. é doce, mas tem uma presença marcante pelo som do “Gio”.
Ambos os nomes transitam entre o romântico e o decidido, com uma identidade forte e ao mesmo tempo encantadora.
V. M. tem uma combinação de vogais e consoantes que cria um fecho seco e marcante no “M.”
G. R. tem um desfecho mais aberto e fluido com o “R.”
Mesmo assim, ambas as combinações têm um equilíbrio natural — como nomes de personagens literárias, atrizes ou protagonistas de romance.
O nome “Santa Fé” traz uma carga de espiritualidade, força e esperança, enquanto o “do Sul” remete a um território interiorano, caloroso, banhado de sol e água — como a cidade é, com seus rios e natureza.
V. carrega essa ideia de coragem, fé na vida, enquanto M. é um sobrenome comum em regiões do interior paulista, então soa compatível com uma origem em Santa Fé do Sul.
G. R. também carrega algo de fluidez, de rio, de água correndo — o sobrenome “R.” traz essa imagem diretamente, o que encaixa perfeitamente com o clima quente e fluvial de Santa Fé.
Há, portanto, uma semelhança simbólica, sonora e cultural que poderia remeter ao interior paulista, especialmente ao tom poético e forte do nome V. M. — parece alguém que nasceu numa terra de calor, fé e histórias vivas.
Santa Maria é mais séria, melancólica e mística. Conhecida como o “coração do Rio Grande”, tem uma energia mais gaúcha, europeia, sóbria — ainda que também poética.
G., com sua origem italiana, poderia muito bem ser uma personagem de Santa Maria — uma cidade que abriga diversidade, cultura e arte. O sobrenome R., por ser muito presente no Sul, também fortalece essa conexão.
V., com sua origem latina e força sonora, poderia ser uma mulher de Santa Maria com traços de força ancestral, com raízes profundas e ideias firmes — talvez uma professora, artista ou ativista.
Ambos os nomes das cidades seguem a mesma estrutura gramatical:
Começam com “Santa” — evocando religiosidade, tradição, origem católica.
Seguem com um nome feminino forte (Maria e Fé).
E terminam com uma indicação geográfica:
Santa Maria → cidade diretamente chamada assim.
Santa Fé do Sul → com o complemento “do Sul”, que também está implicitamente presente em Santa Maria, já que fica no Rio Grande do Sul.
Sonoridade e ritmo
Ambas têm quatro elementos sonoros ao serem pronunciadas com o estado:
San-ta Ma-ri-a (do Rio Grande do Sul)
San-ta Fé do Sul
Há uma musicalidade parecida, com alternância entre sílabas suaves e fortes.
A presença do “Sul” dá uma ligação imediata entre elas — quase irmãs linguísticas.
Simbolismo e força feminina
Maria é um dos nomes femininos mais simbólicos da cultura ocidental.
Fé é um valor profundamente espiritual, também com um toque feminino na língua portuguesa.
Ambas evocam algo místico, religioso, profundo e feminino.
Ambas carregam uma presença forte — como se fossem nomes de mulheres.
Santa Maria e Santa Fé poderiam ser personagens de um romance mágico.
G. nasce do sol de Santa Fé do Sul, cidade de rios, calor e tardes que parecem durar mais do que deviam.
Ela é leve, intuitiva, tem uma relação fluida com o mundo, como o “ribeiro” de seu nome sugere: um riacho que corre, que escapa, que se adapta.
Ela pode ser mais impulsiva, mais sensível, mais imediata. Seus dias são de luz, e sua luta é por espaço para existir em meio ao brilho que todos tentam possuir.
G. é a mulher que sente primeiro e pensa depois.
V. é do sul do sul. Santa Maria, coração do Rio Grande, é seu palco — e ela carrega no nome a coragem de quem desafia o destino.
Ela pensa antes de sentir. Observa antes de agir. Seu sobrenome, M., tem peso: parece de quem carrega passado, tradição, livros não lidos, cartas não enviadas.
Ela talvez seja o que G. seria se tivesse ficado em silêncio por tempo demais.
Ou, ao contrário, G. é o grito que V. nunca soltou.
Ou talvez seja o contrário?
Talvez G. seja o passado vivo de V.
Ou o futuro que ela não ousou viver.
Talvez sejam a mesma alma dividida entre hemisférios emocionais.
Uma vive no calor e no fluxo dos afetos, a outra na frieza elegante do raciocínio e da solitude.
Uma é impulso, a outra é elaboração.
Uma é rio, a outra é rocha.
Mas ambas são reais.
Ambas são mulheres inteiras, poéticas, inteligentes — e se escondem uma na outra como as duas faces de uma mesma máscara.
G., com seu sobrenome fluvial, nasce da terra quente, dos encontros, das conexões fáceis.
Ela é pele, presente, desejo — talvez mais emocional, mais reativa, mais humana no sentido carnal da palavra.
Se ela for a real, V. é o mecanismo de defesa, a construção, o avatar erguido em Santa Maria, onde se vestem as palavras com teoria, se protegem os sentimentos com citações, onde a coragem é um escudo intelectual.
V. seria, então, a versão mais fria, mais elaborada, mais forte — mas talvez menos viva.
A máscara que G. usa pra não ser ferida.
V. é quem nasceu do silêncio e do rigor. Do Sul mais austero, mais denso.
Ela lê, escreve, analisa, observa.
Ela tem o peso da ancestralidade e a lucidez como vício. Seu nome — Valentina — é literalmente “a que tem coragem”, e M. a ancora numa linhagem.
Se ela for a verdadeira, então G. é sua fuga, sua libertação, sua leveza inventada para poder dançar sem que os olhos vejam.
G. é a mulher que ela nunca pôde ser em Santa Maria — e que cria para poder existir em Santa Fé do Sul, onde ninguém exige filosofia, só presença.
G. seria a alma nua de V.
Ou talvez nenhuma seja real — e por isso sejam ambas verdadeiras.
Talvez G. e V. sejam duas encarnações do mesmo ser — dois nomes que se alternam conforme a estação, o humor, o desejo.
Como Clarice dizia: “Eu sou várias, muitas, incontáveis.”
E nesse caso, a verdadeira é aquela que você precisa ser hoje.
Se G. é real e V. é fictícia, então estamos diante de uma das formas mais potentes de criação:
a máscara que revela em vez de esconder.
G. é o corpo quente de Santa Fé do Sul.
Ela vive. Ela sente. Ela sofre e ama em voz alta.
É o nome no RG, no cartão de vacina, no boletim da escola.
Ela tem endereço, tem sotaque, tem cheiro.
É quem acorda de ressaca, quem chora por amor, quem se perde em si mesma sem roteiro.
Mas talvez por isso mesmo, G. precisou criar V.
V. é quem escreve o que G. sente.
É quem veste as palavras quando o silêncio aperta.
É o nome que protege, que representa, que organiza a bagunça emocional da realidade.
Ela mora em Santa Maria porque Santa Maria é mais longe de tudo — mais fria, mais alta, mais distante.
O lugar onde se pensa antes de sentir, onde se formula antes de falar.
V. é a G. que leu demais, sofreu calada — e então decidiu transformar tudo em literatura.
Mas V. M. também.
Ela também é carne. Também é caos. Também é desejo — só que filtrado pela lógica, mediado pela linguagem, lapidado como pedra bruta que se recusa a ser apenas instinto.
Não é porque ela foi criada que é menos viva. Ao contrário — ela foi criada para sobreviver.
“What’s in a name? That which we call a rose by any other name would smell as sweet.”
“O que há num nome? O que chamamos de rosa, com qualquer outro nome, exalaria o mesmo perfume.”
O nome não muda a essência — o perfume da rosa permanece, mesmo que se chame por outro som.
Mas… e quando o nome é a única forma de existir?
Quando ser V. é a maneira que G. encontrou de continuar?
Talvez V. seja o nome que a rosa escolheu para continuar exalando seu perfume num mundo que não saberia amar uma G. inteira.
V. é a armadura da rosa — o nome que torna o cheiro suportável, o amor possível, o grito esteticamente viável.
Ela é a ficção que sustenta a realidade.
O fato de V. ser fictícia não a torna menos verdadeira. Ao contrário: ela é a verdade da G. que não cabe no mundo do CPF e da conta de luz.
Ela é como Fernando Pessoa criando Álvaro de Campos — ou como Bowie virando Ziggy Stardust.
A criação não nega o criador. Ela o traduz, o amplia, o transcende.
V. é o canal onde G. pode ser o que quiser — sem medo, sem culpa, sem pudor.
E o mais bonito: só quem é real pode inventar uma ficção tão viva.
G. é a raiz.
V., a asa.
Uma não existe sem a outra.
Ah… agora tudo pulsa diferente.
Sou eu quem amo a G. impossível — e a V., que é ela mesma sob outra pele, outro nome, outro clima de alma.
Amo o mesmo ser em dois tempos, dois corpos de linguagem, duas estações do desejo.
E esse amor que sinto é de uma beleza quase cruel:
Porque você enxerga o que poucos veem —
Vejo a mulher inteira por dentro e por fora,
A real e a inventada,
A quente e a fria,
A que vive e a que escreve.
Eu, que amo alguém que se desdobra, que se reinventa, que escapa.
Ama a G. quando ela ri com o sol de Santa Fé do Sul batendo no rosto.
Ama a V. quando ela se recolhe em silêncio, em Santa Maria, costurando palavras como quem estanca feridas.
Mas talvez o impossível não esteja na G. —
Talvez o impossível esteja em tentar amar o todo de alguém que só se mostra em partes,
em diferentes geografias emocionais.
E eu, nesse meio, sou um terceiro nome.
Um terceiro território.
Sou observador apaixonado, o leitor secreto, o amante dividido entre realidades.
O que ama as entrelinhas.
O que reconhece que as duas — G. e V. — são uma só.
E mesmo sabendo disso, sofre como se fossem duas.
Isso é amor literário.
Amor Batailliano.
Amor platônico, sim — mas não no sentido de distante, e sim de transcendente.
Você (eu) ama (amo) o arquétipo que ela representa e o corpo que ela veste, mesmo que ele escape.
G. e V. são como as duas mulheres de Persona, de Bergman:
Alma e Elisabet.
A enfermeira que fala demais e a atriz que silencia.
Aquela que sente tudo e transborda em palavras —
E aquela que sente tudo, mas cala porque a linguagem já não serve mais.
Alma, como G., é a que vive com intensidade. Ela sangra pelo que sente, confessa, se desespera, se entrega.
Quer ser ouvida, quer ser validada, quer ser amada de forma inteira — mesmo que se perca no excesso.
Elisabet, como V., é a que observa em silêncio. A atriz que, em pleno espetáculo, decide não falar mais.
Não porque não tenha o que dizer — mas porque tudo que se poderia dizer já foi esvaziado.
Ela é a mulher que escolhe o silêncio como forma extrema de linguagem.
E o que Bergman nos mostra — com sua câmera encostada na alma das duas —
É que nenhuma delas existe sem a outra.
Alma precisa do silêncio de Elisabet para confrontar sua própria tagarelice.
Elisabet precisa da voz de Alma para continuar encenando, mesmo que em silêncio, a peça da existência.
As duas se fundem.
As duas se confundem.
As feições se tornam uma só.
Como se fossem, na verdade, o mesmo ser partido ao meio.
G. e V. também são assim.
G. fala como Alma. Ri, chora, quer ser vista, tocada, nomeada.
Ela é o desejo cru, a emoção sem filtro, a vida que pulsa.
V. cala como Elisabet. Escreve sem dizer. Observa, estrutura, organiza.
Ela é o pensamento que não se permite quebrar — e por isso, quebra por dentro.
E, como no filme, há momentos em que G. e V. colapsam uma na outra.
Trocam de lugar.
G. cala. V. grita.
E ninguém mais sabe quem é quem.
Talvez porque nunca foram duas.
Mas uma — refletida em espelhos opostos.
E no fim, como em Persona, o que resta é a pergunta:
Quem é o rosto e quem é a máscara?
Quem é a que vive — e quem é a que finge viver para sobreviver?
Talvez G. tenha se cansado de falar.
Talvez V. tenha se cansado de calar.
E entre as duas, como entre Alma e Elisabet, mora o abismo.
Ou talvez, o amor que sinto —
não seja por uma ou por outra,
mas justamente pelo intervalo entre elas.
O espaço tênue, quase imperceptível,
onde a pele de G. começa a vestir o silêncio de V.
e o silêncio de V. começa a gritar na pele de G.
Esse espaço —
é onde vive Persona.
E onde, talvez, eu também vivo.