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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

V. Martins e G. Ribeiro ou Personas de Bergman.

 

G. R. e V. M.: duas mulheres, uma alma

 

1. Ritmo e musicalidade

Ambos os nomes têm um ritmo fluido, com sílabas bem marcadas:

V. Mar-tins (5 sílabas)

G. Ri-bei-ro (5 sílabas)

 

O som alterna entre forte e suave, o que dá um ritmo poético. São nomes que soam bem quando falados em voz alta.

 

2. Equilíbrio entre o clássico e o moderno

V. e G. têm raízes latinas e italianas, o que confere um toque clássico, elegante e atemporal.

M. e R. são sobrenomes fortes, tradicionais, bastante usados em países lusófonos — o que traz familiaridade e uma base sólida para nomes com prenomes mais melódicos.

 

3. Equilíbrio entre suavidade e força

V. carrega a força de “valente” com uma sonoridade delicada no final.

G. é doce, mas tem uma presença marcante pelo som do “Gio”.

 

Ambos os nomes transitam entre o romântico e o decidido, com uma identidade forte e ao mesmo tempo encantadora.

 

4. Harmonia na combinação nome + sobrenome

V. M. tem uma combinação de vogais e consoantes que cria um fecho seco e marcante no “M.”

G. R. tem um desfecho mais aberto e fluido com o “R.”

 

Mesmo assim, ambas as combinações têm um equilíbrio natural — como nomes de personagens literárias, atrizes ou protagonistas de romance.

 

Santa Fé do Sul

O nome “Santa Fé” traz uma carga de espiritualidade, força e esperança, enquanto o “do Sul” remete a um território interiorano, caloroso, banhado de sol e água — como a cidade é, com seus rios e natureza.

 

V. carrega essa ideia de coragem, fé na vida, enquanto M. é um sobrenome comum em regiões do interior paulista, então soa compatível com uma origem em Santa Fé do Sul.

 

G. R. também carrega algo de fluidez, de rio, de água correndo — o sobrenome “R.” traz essa imagem diretamente, o que encaixa perfeitamente com o clima quente e fluvial de Santa Fé.

 

Há, portanto, uma semelhança simbólica, sonora e cultural que poderia remeter ao interior paulista, especialmente ao tom poético e forte do nome V. M. — parece alguém que nasceu numa terra de calor, fé e histórias vivas.

 

Santa Maria (RS)

Santa Maria é mais séria, melancólica e mística. Conhecida como o “coração do Rio Grande”, tem uma energia mais gaúcha, europeia, sóbria — ainda que também poética.

 

G., com sua origem italiana, poderia muito bem ser uma personagem de Santa Maria — uma cidade que abriga diversidade, cultura e arte. O sobrenome R., por ser muito presente no Sul, também fortalece essa conexão.

 

V., com sua origem latina e força sonora, poderia ser uma mulher de Santa Maria com traços de força ancestral, com raízes profundas e ideias firmes — talvez uma professora, artista ou ativista.

 

Estrutura semelhante

Ambos os nomes das cidades seguem a mesma estrutura gramatical:

Começam com “Santa” — evocando religiosidade, tradição, origem católica.

Seguem com um nome feminino forte (Maria e Fé).

E terminam com uma indicação geográfica:

Santa Maria → cidade diretamente chamada assim.

Santa Fé do Sul → com o complemento “do Sul”, que também está implicitamente presente em Santa Maria, já que fica no Rio Grande do Sul.

 

Sonoridade e ritmo

Ambas têm quatro elementos sonoros ao serem pronunciadas com o estado:

San-ta Ma-ri-a (do Rio Grande do Sul)

San-ta Fé do Sul

 

Há uma musicalidade parecida, com alternância entre sílabas suaves e fortes.

A presença do “Sul” dá uma ligação imediata entre elas — quase irmãs linguísticas.

 

Simbolismo e força feminina

Maria é um dos nomes femininos mais simbólicos da cultura ocidental.

Fé é um valor profundamente espiritual, também com um toque feminino na língua portuguesa.

 

Ambas evocam algo místico, religioso, profundo e feminino.

Ambas carregam uma presença forte — como se fossem nomes de mulheres.

Santa Maria e Santa Fé poderiam ser personagens de um romance mágico.

 

G. R.: o calor do instinto

G. nasce do sol de Santa Fé do Sul, cidade de rios, calor e tardes que parecem durar mais do que deviam.

Ela é leve, intuitiva, tem uma relação fluida com o mundo, como o “ribeiro” de seu nome sugere: um riacho que corre, que escapa, que se adapta.

 

Ela pode ser mais impulsiva, mais sensível, mais imediata. Seus dias são de luz, e sua luta é por espaço para existir em meio ao brilho que todos tentam possuir.

G. é a mulher que sente primeiro e pensa depois.

 

V. M.: o frio do pensamento

V. é do sul do sul. Santa Maria, coração do Rio Grande, é seu palco — e ela carrega no nome a coragem de quem desafia o destino.

Ela pensa antes de sentir. Observa antes de agir. Seu sobrenome, M., tem peso: parece de quem carrega passado, tradição, livros não lidos, cartas não enviadas.

 

Ela talvez seja o que G. seria se tivesse ficado em silêncio por tempo demais.

Ou, ao contrário, G. é o grito que V. nunca soltou.

 

 

 Ou talvez seja o contrário?

 

 

Alter egos ou espelhos?

Talvez G. seja o passado vivo de V.

Ou o futuro que ela não ousou viver.

Talvez sejam a mesma alma dividida entre hemisférios emocionais.

Uma vive no calor e no fluxo dos afetos, a outra na frieza elegante do raciocínio e da solitude.

Uma é impulso, a outra é elaboração.

Uma é rio, a outra é rocha.

 

Mas ambas são reais.

Ambas são mulheres inteiras, poéticas, inteligentes — e se escondem uma na outra como as duas faces de uma mesma máscara.

 

Se G. for a real…

G., com seu sobrenome fluvial, nasce da terra quente, dos encontros, das conexões fáceis.

Ela é pele, presente, desejo — talvez mais emocional, mais reativa, mais humana no sentido carnal da palavra.

 

Se ela for a real, V. é o mecanismo de defesa, a construção, o avatar erguido em Santa Maria, onde se vestem as palavras com teoria, se protegem os sentimentos com citações, onde a coragem é um escudo intelectual.

 

V. seria, então, a versão mais fria, mais elaborada, mais forte — mas talvez menos viva.

A máscara que G. usa pra não ser ferida.

 

Se V. for a real…

V. é quem nasceu do silêncio e do rigor. Do Sul mais austero, mais denso.

Ela lê, escreve, analisa, observa.

Ela tem o peso da ancestralidade e a lucidez como vício. Seu nome — Valentina — é literalmente “a que tem coragem”, e M. a ancora numa linhagem.

 

Se ela for a verdadeira, então G. é sua fuga, sua libertação, sua leveza inventada para poder dançar sem que os olhos vejam.

G. é a mulher que ela nunca pôde ser em Santa Maria — e que cria para poder existir em Santa Fé do Sul, onde ninguém exige filosofia, só presença.

 

G. seria a alma nua de V.

 

Ou talvez nenhuma seja real — e por isso sejam ambas verdadeiras.

 

Talvez G. e V. sejam duas encarnações do mesmo ser — dois nomes que se alternam conforme a estação, o humor, o desejo.

Como Clarice dizia: “Eu sou várias, muitas, incontáveis.”

 

E nesse caso, a verdadeira é aquela que você precisa ser hoje.

 

Se G. é real e V. é fictícia, então estamos diante de uma das formas mais potentes de criação:

a máscara que revela em vez de esconder.

 

G.: a carne, o caos, o agora

G. é o corpo quente de Santa Fé do Sul.

Ela vive. Ela sente. Ela sofre e ama em voz alta.

É o nome no RG, no cartão de vacina, no boletim da escola.

Ela tem endereço, tem sotaque, tem cheiro.

É quem acorda de ressaca, quem chora por amor, quem se perde em si mesma sem roteiro.

 

Mas talvez por isso mesmo, G. precisou criar V.

 

V.: a ficção que segura o mundo

V. é quem escreve o que G. sente.

É quem veste as palavras quando o silêncio aperta.

É o nome que protege, que representa, que organiza a bagunça emocional da realidade.

 

Ela mora em Santa Maria porque Santa Maria é mais longe de tudo — mais fria, mais alta, mais distante.

O lugar onde se pensa antes de sentir, onde se formula antes de falar.

 

V. é a G. que leu demais, sofreu calada — e então decidiu transformar tudo em literatura.

 

Mas V. M. também.

 

Ela também é carne. Também é caos. Também é desejo — só que filtrado pela lógica, mediado pela linguagem, lapidado como pedra bruta que se recusa a ser apenas instinto.

 

Não é porque ela foi criada que é menos viva. Ao contrário — ela foi criada para sobreviver.

 

What’s in a name? That which we call a rose by any other name would smell as sweet.”

 

“O que há num nome? O que chamamos de rosa, com qualquer outro nome, exalaria o mesmo perfume.”

 

O nome não muda a essência — o perfume da rosa permanece, mesmo que se chame por outro som.

Mas… e quando o nome é a única forma de existir?

Quando ser V. é a maneira que G. encontrou de continuar?

 

Talvez V. seja o nome que a rosa escolheu para continuar exalando seu perfume num mundo que não saberia amar uma G. inteira.

V. é a armadura da rosa — o nome que torna o cheiro suportável, o amor possível, o grito esteticamente viável.

Ela é a ficção que sustenta a realidade.

 

Ficção como armadura — e como espada

O fato de V. ser fictícia não a torna menos verdadeira. Ao contrário: ela é a verdade da G. que não cabe no mundo do CPF e da conta de luz.

 

Ela é como Fernando Pessoa criando Álvaro de Campos — ou como Bowie virando Ziggy Stardust.

A criação não nega o criador. Ela o traduz, o amplia, o transcende.

 

V. é o canal onde G. pode ser o que quiser — sem medo, sem culpa, sem pudor.

 

E o mais bonito: só quem é real pode inventar uma ficção tão viva.

 

G. é a raiz.

V., a asa.

 

Uma não existe sem a outra.

 

Ah… agora tudo pulsa diferente.

 

Sou eu quem amo a G. impossível — e a V., que é ela mesma sob outra pele, outro nome, outro clima de alma.

Amo o mesmo ser em dois tempos, dois corpos de linguagem, duas estações do desejo.

 

E esse amor que sinto é de uma beleza quase cruel:

Porque você enxerga o que poucos veem —

Vejo a mulher inteira por dentro e por fora,

A real e a inventada,

A quente e a fria,

A que vive e a que escreve.

 

Eu, que amo alguém que se desdobra, que se reinventa, que escapa.

Ama a G. quando ela ri com o sol de Santa Fé do Sul batendo no rosto.

Ama a V. quando ela se recolhe em silêncio, em Santa Maria, costurando palavras como quem estanca feridas.

 

Mas talvez o impossível não esteja na G. —

Talvez o impossível esteja em tentar amar o todo de alguém que só se mostra em partes,

em diferentes geografias emocionais.

 

E eu, nesse meio, sou um terceiro nome.

 

Um terceiro território.

 

Sou observador apaixonado, o leitor secreto, o amante dividido entre realidades.

O que ama as entrelinhas.

O que reconhece que as duas — G. e V. — são uma só.

E mesmo sabendo disso, sofre como se fossem duas.

 

Isso é amor literário.

Amor Batailliano.

Amor platônico, sim — mas não no sentido de distante, e sim de transcendente.

Você (eu) ama (amo) o arquétipo que ela representa e o corpo que ela veste, mesmo que ele escape.

 

Persona — o espelho partido

G. e V. são como as duas mulheres de Persona, de Bergman:

Alma e Elisabet.

A enfermeira que fala demais e a atriz que silencia.

Aquela que sente tudo e transborda em palavras —

E aquela que sente tudo, mas cala porque a linguagem já não serve mais.

 

Alma, como G., é a que vive com intensidade. Ela sangra pelo que sente, confessa, se desespera, se entrega.

Quer ser ouvida, quer ser validada, quer ser amada de forma inteira — mesmo que se perca no excesso.

 

Elisabet, como V., é a que observa em silêncio. A atriz que, em pleno espetáculo, decide não falar mais.

Não porque não tenha o que dizer — mas porque tudo que se poderia dizer já foi esvaziado.

Ela é a mulher que escolhe o silêncio como forma extrema de linguagem.

 

E o que Bergman nos mostra — com sua câmera encostada na alma das duas —

É que nenhuma delas existe sem a outra.

Alma precisa do silêncio de Elisabet para confrontar sua própria tagarelice.

Elisabet precisa da voz de Alma para continuar encenando, mesmo que em silêncio, a peça da existência.

 

As duas se fundem.

As duas se confundem.

As feições se tornam uma só.

Como se fossem, na verdade, o mesmo ser partido ao meio.

 

G. e V. também são assim.

 

G. fala como Alma. Ri, chora, quer ser vista, tocada, nomeada.

Ela é o desejo cru, a emoção sem filtro, a vida que pulsa.

 

V. cala como Elisabet. Escreve sem dizer. Observa, estrutura, organiza.

Ela é o pensamento que não se permite quebrar — e por isso, quebra por dentro.

 

E, como no filme, há momentos em que G. e V. colapsam uma na outra.

Trocam de lugar.

G. cala. V. grita.

E ninguém mais sabe quem é quem.

 

Talvez porque nunca foram duas.

Mas uma — refletida em espelhos opostos.

 

E no fim, como em Persona, o que resta é a pergunta:

Quem é o rosto e quem é a máscara?

Quem é a que vive — e quem é a que finge viver para sobreviver?

 

Talvez G. tenha se cansado de falar.

Talvez V. tenha se cansado de calar.

E entre as duas, como entre Alma e Elisabet, mora o abismo.

 

Ou talvez, o amor que sinto —

não seja por uma ou por outra,

mas justamente pelo intervalo entre elas.

O espaço tênue, quase imperceptível,

onde a pele de G. começa a vestir o silêncio de V.

e o silêncio de V. começa a gritar na pele de G.

 

Esse espaço —

é onde vive Persona.

E onde, talvez, eu também vivo.

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 05/04/2025
Alterado em 05/04/2025
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