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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Está Difícil pra eu Ficar sem Cheirar Pó?

 

Eu não tenho vergonha de assumir que fui dependente químico, mesmo sabendo que pode haver conhecidos meus lendo isso. E gosto de dizer “ex-dependente” porque ninguém está condenado a essa condição eternamente. Se o ser humano decidir se libertar, a qualquer momento ele pode mudar o rumo da própria vida e escolher um caminho de vida em vez de um caminho destrutivo.

 

Vergonha? Só Se Fosse Irresistível

Eu teria vergonha, sim, se o vício fosse irreversível e tivesse me feito perder a vida, a saúde de modo incontornável, a aparência, minha família, o amor de quem amo. Mas como nada disso aconteceu e hoje estou em outra fase, vejo minha experiência com drogas exatamente como isso: uma experiência de vida, uma história para contar, uma visão crítica sobre o assunto baseada em vivência real.

 

Se critico as drogas, não é por moralismo ou preconceito conservador, mas por conhecer a realidade do vício por dentro.

 

Ex-Dependente Não É Identidade

Ser ex-dependente não é um estigma eterno, embora deixe cicatrizes — mas cicatrizes são marcas do aprendizado, como as de quem aprende a andar de bicicleta.

 

Vergonha eu teria se, com mais de 60 anos, fosse funcionário público e não soubesse conjugar nem o verbo ir direito, sem conseguir me expressar nem em um grupo de trabalho profissional. Isso, sim, me envergonharia, porque significaria que estou no crepúsculo da vida sem ter aprendido nem o básico: o idioma no qual trabalho e que deveria dominar para exercer minimamente bem minha função.

 

Vergonha eu teria se passasse a vida desperdiçando tempo sem apreciar o que há de mais belo no ser humano: a arte, a literatura, a cultura. Sem perceber que, um dia, o tempo simplesmente acaba.

 

Mas não me envergonho da adicção porque, apesar dessa condição, ela não influenciou no meu aprendizado. Me estagnou socialmente? Sim, pelo comodismo do prazer solipsista   e onanístico que a droga proporciona. Mas intelectualmente? Muito pouco. Só nessa fase final, quando decidi parar, percebi que estava vivendo um eterno Dia da Marmota — uma repetição infinita do mesmo dia, um eterno retorno nietzscheano do demônio do mesmo, sem progresso.

 

Foi Difícil Parar?

Se está difícil para mim parar de cheirar? Não. Nem um pouco.

 

Foi até mais fácil do que eu esperava, graças à minha maturidade e às experiências anteriores. Hoje, consigo enxergar a banalidade da minha vida anterior em comparação com a qualidade de vida que tenho agora.

 

Aproveito muito mais meu tempo, sem hipocrisia, vivendo de modo mais coerente com a minha individualidade. Não sinto saudade da minha vida pregressa. E os benefícios da minha nova vida são visíveis: na minha saúde, na qualidade dos meus textos, na minha imagem, na minha lucidez, no meu poder de atração com as mulheres.

 

Embora essa mudança ainda não tenha se traduzido totalmente na prática, isso acontece mais por escolha do que por acaso. Antes, na inconsequência das drogas, eu aceitava qualquer coisa no mercado afetivo, me envolvia com pessoas que não tinham nada a ver comigo. Agora, sei do meu valor. Não faço mais caridade. Sou exigente.

 

Se foi difícil? Só nos primeiros três dias, quando os sintomas físicos ainda estavam ali. Mas, depois que o mal-estar desapareceu e a questão se tornou puramente psicológica, tudo ficou muito fácil.

 

Minha Rotina Rigorosa 

Hoje, minha rotina é mais rigorosa do que a de qualquer clínica de reabilitação. Muitas vezes, às 4h30 da manhã, já estou de pé para tomar café e banho. Antes das 7h, já estou na academia. Às 9h30, já estou dormindo.

 

Mas não se trata de uma rotina imposta, como a disciplina de uma instituição correcional. Não é como uma clínica de reabilitação, onde regras externas são enfiadas goela abaixo.

 

Minha rotina vem da minha própria vontade. Foi um presente que me dei para fortalecer meu corpo e, consequentemente, minha criatividade. Essa diferença é essencial.

 

Não é um “poder disciplinador” marcando meu corpo com regras internalizadas, como gado sendo treinado para replicar comportamentos sem reflexão. É algo mais profundo: um entendimento moral do que me faz bem ou mal.

 

Conhecer as afecções que beneficiam minha energia e cultivá-las constantemente — esse é meu verdadeiro objetivo. Criar a mim mesmo como obra de arte. Aumentar minha potência de vida e expressá-la em tudo o que faço.

 

Os Olhares do Ressentimento

É claro que sempre há os olhares do recalque, das inimigas invejosas que não querem me ver forte.

 

A força do ressentimento, a personificação do diabo, torce para que eu tropece e caia novamente. Algumas pessoas fazem de tudo para que isso aconteça.

 

Mas são apenas pessoas fracas, incapazes de criar algo próprio. E, por isso, não querem ver quem cria se fortalecer para continuar sua obra.

 

Porque é justamente nesse momento — quando conseguimos tocar o divino e expressar Deus através da nossa arte — que nos tornamos inatingíveis.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 18/03/2025
Alterado em 19/03/2025
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