Da mesma forma que Pasolini fez o filme O Evangelho Segundo São Mateus ou que Clarice Lispector escreveu A Paixão Segundo G.H., eu, proeminente figura e autor célebre da plataforma literária Recanto das Letras, me incumbo da tarefa de dizer quem é quem aqui, em um índice onomástico do Recanto—talvez enviesadamente baseado na plataforma.
De procedência germânica tão falsa quanto produtos do Paraguai, alçou a incrível marca de mais de 15 anos na plataforma sem um único texto relevante publicado. Sua linha de raciocínio não permite ir além de chamar autores com quem não concorda de Ctrl C + Ctrl V, embora talvez nem ele mesmo saiba onde ficam essas teclas no teclado—quem sabe por ainda usar máquina de escrever, tamanho o anacronismo do seu pensamento. Já se declarou negão, mulher… Agora só falta se dizer travesti literário. Seria a grande surpresa do ano. Talvez isso explique sua obsessão com o banheiro que eles devem usar.
Mesmo sob um calor de 40 graus, está sempre trajando sua armadura e sua espada, que dizem pesar quase uma tonelada. Talvez o calor impeça seu pensamento mais lúdico, o que explicaria a defesa e o ataque a algumas ideias absurdas. Autor tolerante e genial, piadista, mas trocadilhista apenas razoável, nunca se esquiva de um debate. Dizem que quer bater o recorde do Guinness Book de bloqueios em uma rede social—no Recanto, já deve somar mais de duas dezenas de escrivaninhas onde os autores preferem ver Satanás comentando a ver a figura de armadura dele. Embora seja inteligente, carece de espírito empreendedor: se colocasse um chapéu—ou melhor, seu elmo—e fosse pedir dinheiro no metrô de São Paulo, pelo inusitado da situação, arrecadaria uma quantia que, em breve, lhe permitiria se aposentar.
Diz que seus parentes escandinavos, ao ouvirem uma vez a inesquecível música É o Amor, da dupla Zezé Di Camargo & Luciano, decidiram batizar seu filho com o nome do cantor—mesmo sem entender uma palavra da letra. Por saber as origens do seu nome, Zezé cresceu obcecado pelo Brasil. Aprendeu tudo sobre o país. Com apenas cinco anos, já sabia fazer sua própria farofa. Aprendeu a falar nóis vai por audição. E, ao atingir a maioridade, realizou seu grande sonho de se mudar para terras tupiniquins. Hoje, é um empresário bem-sucedido no ramo de underwear masculino para idosos—onde, curiosamente, só emprega imigrantes do Leste Europeu. Além disso, é um escritor do Recanto de enorme talento e, atualmente, já aprendeu a conjugar corretamente o verbo “ir”.
O mitômano do Recanto. Nosso Dom Quixote. Assim como Quixote achava que era um cavaleiro andante, ele acredita que detém o título de “Sir”—dado, talvez, por um amigo que não voltou da alucinação de um chá de cogumelo. Mas é brilhante. Assim como Saramago inventou um método único de pontuação, sua mitomania transforma até mesmo captchas de validação da internet em certificados internacionais, reconhecidos na Europa, em outras galáxias e até em outros espaços-tempos. Dizem até que ele é xamã, voltou no tempo e obteve um diploma assinado pelo próprio Confúcio—impresso e à caneta, mesmo antes da invenção do papel e da caneta. Incrível!
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Anda muito ocupada com seu romance lésbico com a CatSkin—talvez tentando bater o recorde do Guinness em horas de sexo. Por isso, não passa mais na minha escrivaninha para dar um oi. Soma-se a isso a exigência de cuidar de 36 gatos, e não sobra tempo para os amigos. Mas quando escreve, é sempre para sambar na cara da sociedade.
Acumuladora de bichinhos domésticos fofos: já tem 14 gatos, 4 cachorros, 3 papagaios, 2 galinhas, 1 vaca, 1 macaco, 1 golfinho (não me pergunte como), 1 ornitorrinco, 1 hipopótamo e até mesmo um unicórnio. Todos vivem harmoniosamente no seu palácio de vidro, com amplo jardim. Ela vive como uma princesa, e seus animais a servem—não o contrário. Anda em busca de um príncipe encantado, de preferência francês, e, por isso, está aprendendo francês. Escreve poesias bucólicas que trazem paz e conforto aos nossos dias turbulentos.
Atualizou seu status de relacionamento para “sério” com um coelho. E que casal fofo! Foram feitos um para o outro—dois fofinhos. Sua aversão ao convívio social talvez tenha feito com que preferisse um bicho a um ser humano, mas a troca entre eles é apenas afetiva e intelectual. Escreve de forma tão bonita que sua literatura já seria bela por si só—e não precisaríamos comprovar isso por meio de uma foto com seu amante roedor. Será que ambos gostam de cenoura? Fica a pergunta.
Flora me lembra flores, que me lembram orvalho, que me lembra coisas umedecidas, que me lembra o verbo “deflorar”. De uma verve artística tremenda e um raro talento literário. Estudiosa. É uma Hermione da vida real. Talvez uma Hermione das varinhas. E, pela sua beleza e talento, bem que poderia encantar as varinhas e fazê-las crescer—pelo menos a minha. (Risos) Uma princesinha gótica que é capaz de se vestir toda de rosa com um diadema de tulipas negras.
Não é à toa que D’Artagnan é o principal mosqueteiro entre os três, que na verdade são quatro. Com um toque e estilo inconfundíveis, fala muito escrevendo pouco. Tem um poder de síntese admirável. Vida longa ao nosso decano!
Devora as letras. Tem uma saliência nos textículos e predileção por esse gênero literário. Mestre do trocadilho e do deboche. Amigo pessoal do Frei Flato. O único que já conseguiu ter um caso com a Musa do Recanto—cuja identidade ele nunca ousou revelar.
Diz a lenda que até um texto que ela escreveu sem querer que simplesmente foi ao banheiro, alcançou mais de mil leituras e três mil comentários no Recanto—e garantiu seu lugar no pódio da lista de Pablo Merenda.
Descrição acessível apenas para maiores de 18 anos.
Sua escrita não é como o seu sobrenome—não anda para trás. Sempre avança, sempre é interessante. Inventor desse gênero: ficção interessante. Raro autor cujo modo de vida e pensamento conferem coerência à sua produção literária. Une a sagacidade e maturidade de um homem vivido com a ingenuidade e pureza de uma criança. Um homem de bom coração, ainda que, às vezes, use seus saltos carpados para defender alguns abusos históricos da Igreja.
Anti-reaça. Seu lema é Reaça lá, eu cá! Afinal, óleo e água não se misturam. Seu gato preto combina com seu rosto de uma beleza pura. Só surpreende que, mesmo no calor do Nordeste, insista em usar touca.
Por último, e não menos importante — muito pelo contrário, eu diria —, o humilde escriba do Recanto: apenas alguém que escreve.