Eu choraria pela morte de alguém, até mesmo um alguém distante que admiro, alguém com quem aprendi a conviver e acostumei com sua presença com o hábito e a rotina do dia a dia e me causaria enorme tristeza se partisse, como um Recantista, um amigo querido, ou até mesmo a pessoa que amo, se ela se fosse repentinamente para nunca mais. Mas se ela simplesmente fosse embora, mas continuasse vivendo, eu jamais choraria — ainda mais no momento que estou vivendo agora. Por amor, não se chorar.
Para quem acha estranho esse amor que sinto por alguém que está ausente e que pode parecer um tanto obsessivo da minha parte, saibam vocês que é recíproco, e talvez a obsessão seja muito, mas muito maior da parte dela.
Ela sabe onde moro, porque já encaminhou os e-mails para cá, os quais eu mandava para ela aos cuidados da minha mãe. Sabe meu telefone, pois já me ligou aqui me ameaçando de morte, ou para simplesmente conversar, até mesmo mantendo amizade com minhas vizinhas para saber de mim. Sabe o nome de todos meus familiares, suas aparências, e praticamente tudo sobre minha vida — além das coisas que eu relato de livre espontânea vontade. Mas muitas dessas informações ela soube sub-receptivamente.
E eu não sei nem metade das coisas dela. Nem sei se tem irmãos. Nem sabia, até um dia desses, se tinha mãe, etc.
Sim, eu procuro por ela diariamente no Instagram, para matar as saudades e saber se ela está bem.
Porém, a minha consciência do meu valor no mercado afetivo, a minha raridade, e o estado atual em que estou vivendo me faz não lamentar e não precisar da presença de ninguém para ser feliz — nem do grande amor da minha vida, a parte que falta. Mas ela me completaria, digamos assim. Eu ainda seria mais feliz com ela, seria melhor, mas não que me falte algo.
Ela é uma mulher financeiramente independente e está em um estágio profissional muito mais avançado do que o meu. Ela não teria dificuldade em arrumar um parceiro no seu meio, com uma renda financeira melhor do que a minha. Mas, também, é só isso.
Eu sou raro, mais bonito, mais elegante, mais culto, mais educado, carinhoso, cavalheiro, artístico. Alguém que escreve, com porte físico atlético, que transforma a si mesmo em obra de arte, e que consegue converter seu capital cultural facilmente em capital financeiro, ou seu capital sexual e atrativo em vantagens para si, como arrumar uma parceira. É mais fácil para mim arrumar uma parceira que seja tão rica, bem-sucedida, bonita e inteligente quanto ela, do que ela arrumar alguém como eu, pois sou raro e único. Isso eu acho que é inegável. Mas não nego que no ciclo social dela haja alguém mais “bem nascido”, digamos assim. Deve ser algum médico, desinteressante, sem gosto, que nem sabe escrever e manda áudios. E se for bonitão, atlético, ainda terá sorte. Mas dificilmente será um moreno esbelto como eu, elegante, que daqui a um tempo terá o corpo todo definido e uma barriga tanquinho, que dará para lavar roupa nela, e, de bônus, um órgão sexual protuberante.
E ela, para quem não sabe, gente, é uma pessoa de linguagem. Ela ganhou um concurso, quando adolescente, nos Correios, entre o Brasil todo, um notebook de prêmio. O tema era meio ambiente, e o dela era sobre um homem que reencarnou como árvore e, assim, teve a oportunidade de se conscientizar sobre o meio ambiente. A menina é foda! Além de ser linda, com seu rosto delicado e angelical, que transparece bondade. Ela não se contenta com qualquer um. Por isso, fomos feitos um para o outro.
Mas, se o amor passar, não irei chorar.