Estou aqui para lembrar dos momentos em que esta página existia só para uma pessoa: a musa italiana de nome com dois “n”, que veio roubar o lugar de Sophia Loren e Monica Vitti. Tempos em que apenas ela lia minhas postagens, quando eu não interagia com ninguém, e o aumento no número de leituras significava, muito provavelmente, que era ela me lendo. Afinal, só ela conhecia minha página—especialmente os posts antigos.
Isso me gerava um efeito de dopamina semelhante ao de beijá-la na boca, nossas línguas se encontrando em perfeita sincronia com o compasso do desejo.
Agora, com a popularização da minha página—o que, veja bem, não acho ruim, porque ser lido é bom—, todo mundo que entra diariamente já sabe quem é Dave Le Dave.
Se não se tornou meu leitor diário e permanente, assinando a minha newsletters diária de até 9 textos ao dia, é por pura teimosia ou recalque.
Mas confesso que algumas coisas não me dão prazer em escrever. Faço apenas pela repercussão, pelo engajamento, para atrair o público para cá. Normalmente, são textos com títulos chamativos, como aquele Oscar que dei de brincadeira. Um texto que fiz em dez minutos, sem nenhum esforço, valeu pelo humor, mas não é exatamente algo de que me orgulhe. Ainda assim, rendeu quase cem visualizações em menos de duas semanas—o que, para os padrões do RL, é muito.
Mas o que eu gosto mesmo é de falar das minhas paixões. Cinema, música, futebol, videogame, literatura, filosofia, cultura e artes em geral. E, claro, da minha grande paixão: a musa italiana de nome com dois “n”.
Minha princesa camaleoa, que fica linda tanto na versão tiny e skinny quanto chubby. E continuará linda quando for MILF, e até GILF. E pregnant—mas só se o filho(a) for nosso. Todos esses termos que aprendi de maneiras não muito elegantes, mas que agora uso com a propriedade de quem sabe exatamente do que está falando.
É bom saber que um texto que levei trinta minutos para escrever terá mais leitores do que minutos gastos na escrita. Mas sinto saudades daquela época em que éramos só eu e ela, como se cada texto fosse um jantar cuidadosamente preparado—pasta escolhida a dedo, vinho harmonizado, decoração pensada para a pessoa que amo. Meu conteúdo daquele tempo era assim, feito à la carte, só para agradá-la.
E é para resgatar essa época que escrevo este texto.
Naquele tempo, eu escrevia sem erudição ou sofisticação. Eram bilhetinhos de amor, coisas simples da alma e do coração. Mas, nessa arte, era ela quem dominava—expressava os sentimentos com extrema ternura.
As minhas declarações podiam soar como cartas de amor ridículas. E seriam ridículas se não o fossem, não é mesmo?
Lembram do meu ex-chefe, aquele que nos mandava beber água, fazer carteirinha do Sesc e gostava de dar lições de moral com bordões roubados diretamente de filmes brasileiros? Pois ele tinha um jeito peculiar de se despedir da esposa ao telefone, e fazia questão de que todos ouvissem:
— Amore mio, te amo mucho, mucho, mucho…
Misturava português, italiano e espanhol. Ele, com seu quê de nordestino. Ela, alemã meio brasileira. Um encontro deveras cosmopolita.
O que me encantava era esse carinho contrastando com sua figura meio ogra, grosseira. A esposa dele era uma mulher doce—literalmente. Fazia sobremesas incríveis, uma palla italiana digna dos deuses.
E eu sempre me encanto quando vejo que a instituição do romantismo não se perdeu por completo. Esse enaltecimento da mulher amada, esse pódio onde ela ocupa o primeiro lugar…
E é exatamente para isso que esta página chamada Dave Le Dave existe: para exaltar a mulher que amo. Minha musa italiana (que talvez nem seja italiana, mas agora passa a ser, pelo poder da minha imaginação).
Mesmo com o tempo separados, bastou ver sua foto depois de um longo período para reacender com mais intensidade o que sinto. Ela é o amor da minha vida.
Deixo este recado como lembrança, como recordação dos tempos em que éramos só eu e ela. E vamos fingir, meu amor, que estamos apenas nós dois aqui nesta página.
Que finjamos, para rememorar os velhos tempos que não há mais ninguém aqui além de nós dois, meu amor… ou, no máximo, umas quinze pessoas nos lendo e segurando vela para a gente.
Então eu digo:
— Amore mio, te amo mucho, mucho, mucho…
Assinado:
Dave Le Dave.
Ou David Amorim.
Ou como você quiser me chamar.