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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

“Aí, eu sou ‘FEMININA’, não sou ‘FEMINISTA’!”

Em pleno Dia das Mulheres, ouvir um homem, no alto de sua virilidade, parabenizar as mulheres e, ao mesmo tempo, dizer que elas não devem ser feministas, mas sim femininas, como se fosse necessário se enquadrar em um tipo ideal para ele — esse tipo ideal que define a mulher como passiva e dócil, uma criatura moldada ao seu bel prazer, um bibelô de decoração para servi-lo e enfeitar a casa, como na obra de Dostoiévski. Ele nega o direito à liberdade da mulher de ser quem ela é, limitando-a a um estereótipo que a obriga a ser feminina, a usar rosa, a ser delicada, ou seja, a ter uma essência de mulher que nega sua condição de ser livre, de dar a si mesma a liberdade de suas escolhas, de se definir conforme sua vontade. Isso é, sem dúvida, uma forma de má-fé.

 

Negar essa liberdade é estar em má-fé, pois como Sartre diria, ao impor essa condição, o homem realiza um gesto de violência simbólica muito grande, uma objetificação ou reificação, onde um sujeito transforma outro em um objeto, negando-lhe sua liberdade. Isso ocorre, por exemplo, em relações de dominação, no famoso conceito de “o olhar do outro”, onde uma pessoa define a outra a partir de suas próprias expectativas e julgamentos. Aquela que nega sua liberdade e é moldada pelas relações sociais está, segundo Marx, em alienação.

 

Portanto, um homem dizer a uma mulher, no Dia das Mulheres, que ela deve ser ‘FEMININA’ em vez de ‘FEMINISTA’, é um ato de violência simbólica, de ignorância, de desconsideração para com a mulher, um machismo prepotente que diminui a mulher, fazendo-a se submeter a um padrão de qualidade imposto pela sociedade, negando sua autonomia justamente no dia que deveria ser um momento de celebração e reconhecimento. Não estou dizendo que o movimento feminista não é passível de críticas — eu mesmo acredito que suas disfunções podem, por vezes, dar espaço para o machismo. No entanto, negar o direito da mulher a essa escolha, como homem, e afirmar que ela deve ser feminina e se enquadrar em um estereótipo de beleza apenas para agradar a mim ou à sociedade, e não a ela mesma, beira a misoginia.

 

E o pior é ver mulheres concordando com esse autor, como se ele tivesse feito uma revelação divina. São essas mulheres que são contraproducentes, que apanham de seus companheiros, homens ‘bons’ de Deus, que defendem pátria e família, e que acreditam que suas mulheres devem ser femininas, e não feministas. Mas, quando elas fogem desse padrão, acabam levando uma surra. O mundo está virado às avessas.

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 08/03/2025
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