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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Dave Le Dave: O Low Profile Mais Exibicionista do Recanto

 

Nossas escolhas, como diria Sartre, definem quem somos e o mundo que desejamos. O fato de eu não ter redes sociais e usar uma página literária como fonte de expressão — um blog diário, escrito e imagético — diz muito sobre minha visão de mundo. Afinal, sou humano e, como dizia o sábio e dramaturgo Terêncio, “nada do que é humano me é estranho”. E o humano é, antes de tudo, um ser de linguagem. É essa forma que uso para me expressar e me definir.

 

Se no Recanto eu cultivo um estilo que beira o histrionismo, grandiloquente, que exala confiança e certa presunção, esse tom é minha persona literária, a máscara de herói que visto através do pseudônimo Dave Le Dave. Em contraste, na vida cotidiana, sou uma figura low profile — altiva e nobre, é verdade, mas que evita discussões acaloradas, se restringe aos monossílabos e só opina quando solicitado, e ainda assim, concisamente, para não soar pedante e respeitar as limitações dos interlocutores (que, convenhamos, costumam ser muitas).

 

Aliás, trabalho na área da saúde, cercado de médicos — o que, por si só, já seria um argumento. Mas nem por isso caio na alienação.

 

Eça de Queirós, afinal, nos apresentou Pacheco, um homem de vasta “sabedoria”, cuja maior competência era fingir ser competente. Seu silêncio fazia com que parecesse inteligente; sua expressão concentrada e quieta só poderia sugerir erudição — ainda que jamais a comunicasse. São os tais “sábios do silêncio”, que querem se dizer intelectuais, mas não têm obra alguma publicada. Inclusive aqui, no Recanto.

 

Cadê seus arquivos culturais, hein, Pachecos?

 

Exibicionismo Disfarçado de Low Profile

Então, se aqui sou exibicionista, na vida real, embora me apresente com a postura aristocrática de quem se faz passar por burguês — com um ar altivo e nobre —, prefiro passar despercebido, não chamar atenção para mim. Inclusive nas roupas, minha distinção se dá pela elegância simples, que é o último grau de sofisticação. O que chama atenção é, de fato, o burlesco e o exagerado.

 

Isso contrasta com o perfil de uma doutora, que é o oposto de mim: uma pessoa que finge ser low profile, mas quer ser exibicionista. Ou seja, eu tenho conteúdo e prefiro o anonimato; ela, ao contrário, não tem conteúdo e quer ser influenciadora. Se autointula doutora no seu Instagram, com o perfil aberto. Curiosamente, parece que o português só serve para passar no vestibular para médicos.

 

A página dela não é só para divulgar a si mesma, mas também seu trabalho, como uma extensão de sua visão idealizada na sociedade do espetáculo, de Guy Debord. E ela nem se preocupa em escrever corretamente, sem usar vírgulas ou respeitar o vocativo — algo básico e intuitivo para quem tem o hábito de leitura, sem precisar estudar. Mas, como não deve ter esse hábito, seu português mais parece de quinta série, e muito menos sabe o que é o vocativo. A ignorância se estende aos comentários, a maioria deles — médicos, claro — também ignorando a gramática e o vocativo, e não conseguem deixar um comentário maior que três linhas. Pior ainda, desaprenderam a linguagem e só se expressam por desenhos e símbolos como ❤️🥰😍, entre outros emoticons. Seu vocabulário se limita a signos e figuras, e esse é o limite de sua criatividade.

 

Não me espanta que, ao deixar um comentário numa foto — “Eu não sabia que a Vênus de Milo, de Praxiteles, tinha assumido uma forma humana e gostava de roxo” — eu tenha sido bloqueado. Talvez tenha dado uma tela azul de erro do Windows na cabeça dela pela completude da frase. O que é uma pena, pois meu próximo comentário seria sobre uma foto de uma pessoa que gosto, dizendo: “Se eu tivesse sido cuidado por mãos como essas, desejaria ser criança eternamente, igual ao Peter Pan.” E, para fechar, eu ia comentar na foto dela segurando uma criança negra: “Que bonito ver essa imagem de uma criança neguinha entre tantas pessoas de pele tão alva, quase cor de leite. Isso me faz lembrar o mito do touro branco, pelo qual Pasífae, esposa de Minos, rei da bela ilha de Creta, na Grécia, se apaixonou. O touro era branco como leite, mas tinha uma única mancha preta no chifre — um detalhe que só realçava sua beleza e raridade, tornando-o irresistível até para uma mortal. No entanto, o fruto desse amor proibido foi uma aberração: o Minotauro.”

 

 

Desigualdade e Clichês

“Da mesma forma, a desigualdade social é uma aberração construída pela sociedade, mas o contraste entre essas duas realidades, capturado na imagem, tem sua própria força, seu impacto e, de certo modo, sua beleza.”

 

E então, as imagens do casamento. Puro clichê. O momento mais importante da vida de uma pessoa reduzido a algo clichê, opulento, caro, mas sem força, personalidade, espírito; sem estética, ou melhor, um kitsch. O dinheiro compra o buffet, mas não compra o bom gosto, a distinção. Uma celebração mais simples poderia ser mais sofisticada: ao ar livre, com a paleta de cores dos vestidos compondo com a da natureza, ar para respirar. Ou, senão, o litoral. Ou, se quiser algo mais tradicional, uma igreja de arte sacra barroca, renascentista, ou até gótica — desde que seja imponente.

 

E aí contrasto tudo isso, porque sei que sou necessário na vida de quem amo. Não esqueço das nossas conversas, e sei que represento o oposto de tudo isso. No final, ela é uma pessoa de linguagem e de cultura literária. Não é possível que ela se sinta à vontade nesse ambiente; não é a essência dela. Não se muda o modo de amizade que tínhamos, e de repente, mudar para indiferença e ódio, considerando o que represento e o tipo de pessoas com quem ela convive. A banalidade.

 

No final, as borboletas sabem da sua beleza e essência. Elas sempre voltam e o seu jardim sou eu.

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 07/03/2025
Alterado em 07/03/2025
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