Cioran dizia que uma das formas de escapar da constatação do absurdo da existência é através da futilidade.
“Futilidade, afinal, também é cultura”, já diria o satírico Argônio.
Eu me pego, nos momentos de dolce far niente, contemplando meu guarda-roupa e as possíveis combinações, em um exercício de abstração artística, como um pintor escolhendo a paleta para sua tela—mas, no meu caso, para compor meu look do dia.
Observo que cor combina melhor com qual, que camiseta fica bem com qual camisa, se o short ou a calça pede determinado calçado, com ou sem cinto. Como minhas roupas já são elegantes por si só—sóbrias e belas—não é difícil combiná-las. Basta ser simples. O segredo é unir conforto e elegância: não posso passar calor, mas também não posso estar desleixado só por causa do calor. Equilíbrio.
Por isso, hoje mesmo, escolhi ir de short. Mas só ele? Não. Uma camisa traz um toque de sofisticação, mas poderia parecer destoante. Então, uma camiseta por baixo dá o equilíbrio urbano—no caso, ainda, uma regata. Resultado: estou fresco, sem calor em excesso, sem a vergonha de estar malvestido.
Só de camisa? Isso não seria um look. Look é uma toilette. Camisa e short apenas seriam roupas, uma combinação qualquer. Look é o algo a mais, o detalhe, a coerência na composição—mesmo na arte da futilidade.
E por falar em futilidade… De que marca é essa minha camisa? Perdão, marca não—grife. (Cof cof.)